Depois de abrigar o Banco Transatlântico Alemão e a Secretaria de Estado de Fazenda, prédio da Rua da Alfândega passa por restauro para sediar o Palácio da Ciência
Secretarioa da Cultura do Rio de Janeiro
Pequeno documentário acompanha o processo de restauro do prédio histórico (Crédito: Diadorim Ideias)
Rua da Alfândega, 42, centro da cidade. Bem ali, no burburinho de uma das ruas mais movimentadas da cidade, encontra-se um prédio com muitas histórias. Em estilo eclético, o projeto do alemão Lambert Riedlinger foi inaugurado em 1926 para sediar o Banco Alemão Transatlântico. O prédio foi erguido pela pela Companhia Construtora Nacional, símbolo da chegada do concreto armado ao país. Na construção original, a fachada, com elementos que representam brasões de países com os quais o banco mantinha relações comerciais, e o hall de entrada, com amplos vitrais e uma claraboia que iluminava todo o ambiente, eram alguns dos destaques. Nesta época, primeira metade do século XX, a região central da cidade foi marcada por uma série de transformações urbanas que iam desde o saneamento básico até o desmonte de morros, como o do Castelo, passando pelo alargamento das principais vias de circulação. O Rio de Janeiro era modernizado à exemplo de grandes cidades européias, como Paris.
Com o fim das atividades do Banco Alemão Transatlântico, em 1942, o prédio começou a sofrer intervenções que alteraram sua estrutura original para dar lugar à Secretaria de Finanças da Prefeitura do Distrito Federal (Secretaria de Estado de Fazenda após a fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro). Hoje, quase cem anos depois de sua inauguração, ele passa por amplo processo de restauro, que teve início em fevereiro de 2014 e está previsto para ser concluído em maio deste ano. “O que mais nos chamou atenção foi o fato de uma laje ter sido acrescida ao mezanino por volta de 1944, descaracterizando completamente o grande hall. A estética original foi prejudicada e danos aos elementos decorativos foram de grande impacto”, esclarece Marcos Scorzelli, que projetou, ao lado do pai – o arquiteto Roberto Scorzelli – a nova planta do prédio que passa a sediar oPalácio da Ciência, abrigando a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e a Academia Brasileira de Ciências(ABC).
Ruy Marques, presidente da Faperj, lembra que esta será a primeira sede própria da instituição. “A recuperação desse prédio, que faz parte da história do Rio de Janeiro, para abrigar nossa primeira sede própria é um coroamento, um verdadeiro presente pelas atividades que vêm sendo desenvolvidas pela Fundação”, comemora Marques, para, em seguida, comentar a atuação da ABC na nova sede. “Cedemos, por um período de vinte anos renováveis, três dos sete andares do prédio para a ABC. Sem qualquer dúvida, será uma grande honra dividir um espaço tão grandioso e histórico”.
Modernizando o passado
Engenheiros, arquitetos, pedreiros, carpinteiros, restauradores, marteleteiros, eletricistas e bombeiros hidráulicos, totalizando 160 pessoas, trabalham com afinco para adaptar o prédio histórico aos tempos modernos, tendo como base o projeto arquitetônico idealizado pela Scorzelli Arquitetura e Design, vencedor do VIII Concurso Latino Americano de Arquitetura Corporativa 2011. “Nos envolvemos com o projeto à medida que descobríamos os elementos arquitetônicos escondidos ao longo dos anos e a belíssima história do prédio. Convidamos os arquitetos Jayme Zettel e Carmem D’Elia para desenvolver o projeto de restauro e a pesquisa histórica. O olhar apurado e o vasto conhecimento de ambos trouxeram uma riqueza de detalhes e soluções técnicas para recuperar os elementos art déco e art nouveau, além dos vitrais do grande hall”, comenta Scorzelli.
Dentre outras instalações, o Palácio da Ciência terá uma entrada independente para a ABC, além de uma sala para exposição de seu acervo, no subsolo, auditórios, salas multiuso e cafeteria. O grande hall, um dos destaques do projeto original, “será um espaço aberto a exposições e eventos de importância científica”, resume o arquiteto, que aponta algumas dificuldades para tirar seus planos do papel. “A edificação não tinha nenhuma planta confiável. Foram necessários meses de levantamento no local, medindo cada parede e cada pilar com a Secretaria de Fazenda ainda em funcionamento”.
Prédio foi tombado em 1998
Para restaurar cada detalhe do prédio histórico, é preciso o aval doInstituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), já que ele é tombado. “O processo de restauração se inicia com o tombamento, pois é quando se faz o reconhecimento dos valores culturais a serem preservados. Depois vem a fase de Projeto de Restauração e Adaptação de Uso, na qual são desenvolvidos os estudos, pesquisas, projetos arquitetônicos, projetos das instalações complementares, as especificações técnicas e metodológicas para a execução das restaurações, o planejamento da obra e seu orçamento. Depois, no caso de prédio público, é feita a licitação para escolha da empresa especializada em restauração que executará a obra. Escolhida a empresa, é iniciada a obra de restauração. Todas as etapas são acompanhadas, orientadas e aprovadas pelo Inepac”, explica Paulo Vidal, diretor-geral do instituto, destacando alguns dos elementos que compõem o prédio. “É um exemplar notável de arquitetura acadêmica de gosto francês. Tanto a fachada como os interiores são tratados com primorosos trabalhos ornamentais”, afirma.
Livro Palácio da Ciência
Paralelamente às obras, ocorre o lançamento do livro Palácio da Ciência, que abre a coleção Restauro.RJ, como aponta Vidal. “Esta coleção tem como finalidade não só divulgar o histórico e os valores culturais tombados, mas, também, registrar a obra de restauração e servir de bibliografia para os alunos da Escola de Restauro da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec) que o Governo do Estado está implantando em Vassouras. Assim, a cada obra de restauração será produzido, ainda, material didático que multiplicará o conhecimento técnico necessário à realização de obras de restauração”, conclui o diretor-geral.
Colaboração de Danielle Veras