Rondônia aguarda instalação de entrepostos de piscicultura

Portal Amazônia

Há aproximadamente 3,6 mil piscicultores em Rondônia. Serão instalados três entrepostos pesqueiros e frigoríficos no Estado

PORTO VELHO – Três entrepostos pesqueiros estão previstos para serem implantados emRondônia ainda em 2015. A iniciativa é do governo do Estado e tem como objetivo superar gargalos como o armazenamento e a comercialização dos pescados. ‘‘Nós saímos de uma produção em 2010 de 12 mil toneladas e chegamos ao final de 2014 com 80 mil toneladas de peixe’’, afirma o titular da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Desenvolvimento e Regularização Fundiária (Seagri), Evandro Padovani.

Produção de peixe de Rondônia é de 80 mil toneladas por ano. Foto: Vanessa Moura/Portal Amazônia

Uma produção que tem mercado certo. ‘‘No passado nós tínhamos Manaus como um grande comprador da produção de pescado de Rondônia. Hoje, nós abrimos mercado em 12 estados, incluindo São Paulo, Goiás; Mato Grosso; Mato Grosso do Sul. Nós estamos trabalhando com a equipe técnica, buscando novos mercados para ampliar a comercialização’’, conta Padovani.

Rondônia tem 12 mil hectares destinados a produção de peixe. Foto: Vanessa Moura/Portal Amazônia

São mais de 12 mil hectares de lâmina de água destinada a produção de peixes, destes quase 4 mil hectares estão localizados no município de Ariquemes. Há cerca de 670 piscicultores na cidade. E é para Ariquemes que está previsto a instalação de um dos entrepostos pesqueiros. ‘‘Com o recurso do Fider [Fundo de Investimento e de Desenvolvimento Industrial do Estado de Rondônia] vamos construir três entrepostos: um no município de Ariquemes; outro em Ouro Preto e o terceiro a definir ainda, provavelmente na região do Cone Sul’’, conta Padovani.

Ariquemes é o estado com maior produção de peixe de Rondônia. Foto: Vanessa Moura/Portal Amazônia

Investimento

Os projetos dos entrepostos pesqueiros estão prontos e só depende do repasse do município para o Estado. O recurso está assegurado. Serão R$ 2 milhões para cada entreposto. ‘‘Vamos iniciar a execução dos três entrepostos para ser concluído nos quatro anos de governo. Mas esses dois principais, a gente quer que ainda este ano estejam concluídos. O de Ariquemes e Ouro Preto’’, afirma.

O secretário explica que a construção dos entrepostos é uma necessidade em Rondônia. ‘‘Hoje o peixe faz a despesca na propriedade rural, o produtor emite uma nota e sai para o destino final, para outros estados. E o governo do Estado quer que esse peixe, antes dele sair, passe por esses entrepostos para que ele tenha um acompanhamento da vigilância. Levando uma melhor garantia para o consumidor’’, destaca o secretário.

O peixe produzido em Rondônia deverá passar pelos entrepostos. Foto: Vanessa Moura/Portal Amazônia

Cada entreposto terá a capacidade para 30 toneladas de peixe (armazenagem) por dia e inclui também uma fábrica de gelo com capacidade para 50 toneladas por dia. Segundo o secretário, o apoio a industrialização dos peixes vem para somar uma série de ações realizadas nos últimos anos como a disponibilização de máquinas para escavações de tanques, assistência técnica; cadastro ambiental rural e licença para a piscicultura. ‘‘Agora em 2015, estamos focados em trazer indústrias para o processamento do peixe de Rondônia e os entrepostos também para facilitar a vinda de compradores de outros estados’’, afirma Padovani.

 

Processamento do peixe de Rondônia é foco das ações da Seagri. Foto: Vanessa Moura/Portal Amazônia

Indústrias

Além da iniciativa do Poder Público, o setor privado também tem ajudado a alavancar o setor em Rondônia. ‘‘Em 2014, começamos a buscar indústrias para processamento do peixe em Rondônia. E isso já começou a surtir efeitos. Estamos com uma indústria de Manaus. Uma empresa de lá está se instalando no município de Porto Velho, onde o Estado cedeu a área e já iniciou as obras de construção. Até o final de 2015 esta indústria já vai estar operando. Processará 30 toneladas por dia’’, conta.

O potencial em criação de peixe atraí frigoríficos para Rondônia. Foto: Vanessa Moura/Portal Amazônia

O potencial para a piscicultura e os incentivos fiscais para as indústrias se instalarem no Estado chamou atenção de outra empresa. ‘‘Temos uma segunda indústria de São Paulo que já entregou a carta de intenção, investimento de R$ 25 milhões. Este terá o prazo de um ano e meio para instalação no município de Porto Velho também’’, afirma.

Outro município que chamou atenção do empresariado é Itapuã d´Oeste. ‘‘Nós temos um entreposto de iniciativa privada em processo de construção. Investimento de R$ 2 milhões. Isso é importante para que feito a despesca na propriedade, o peixe vem para o entreposto, faz uma lavagem em água fria. Tem um procedimento de sanidade pelo Ministério da Agricultura e esse peixe sai do entreposto com inspeção federal’’, observa.

Setor público e privado investem na piscicultura de Rondônia. Foto: Vanessa Moura/Portal Amazônia

É o setor privado e o público somando esforços para atender uma demanda que só cresce no Estado. ‘‘Hoje Rondônia comporta grandes indústrias de beneficiamento de peixe por ter uma grande produção e a nossa meta é que nesses próximos quatro anos nós deveremos dobrar a produção de peixe em Rondônia’’, garante o secretário.

Piscicultores

Há aproximadamente 3,6 mil piscicultores em Rondônia. Como, José Martim Nogueira,  de 55 anos, que começou a apostar no setor em 2005. A produção passou de 32 quilos para 80 mil quilos de peixe, nos últimos dez anos. Topógrafo, ele conheceu o setor em 1999 quando começou a trabalhar com projetos de tanques de peixe no município de Ariquemes. ‘‘Veio a ideia de comprar um pedaço de terra e criar peixe também. Visto que vejo como uma atividade promissora e lucrativa. Veio o desejo por ver outros criando’’, disse Martim.

 Piscicultor José Martim começou a criação de peixe em 2005. Foto: Vanessa Moura/Portal Amazônia

No começo eram seis tanques de peixe, investimento próprio do piscicultor. Depois com os financiamentos, Martim ampliou a produção. Agora são 19 tanques em uma área de 11 hectares de água. Uma aposta que Martim não se arrependeu. ‘‘Eu gosto muito de peixe, de pescar e estou gostando de criar peixes. É uma coisa que vale apena, eu acredito nisso’’, destaca o piscicultor.  Os tanques na propriedade de Martim, localizada em Itapuã d´Oeste, têm em média 2,5 metros de profundidade e tamanhos variados.

Martim tem 19 tanques na propriedade rural. Foto: Vanessa Moura/Portal Amazônia

Seis deles são destinados aos alevinos e por isso são chamados de berçários. Esses são os menores com 1,7 mil metros quadrados. E precisam de uma cobertura com rede contra predadores. Já os demais destinados aos peixes com mais de três meses e esses têm entre 0,5 a 1 hectare. Em cada hectare, Martim consegue produzir 8 mil quilos de peixe. ‘‘O investimento no peixe é um investimento pesado. Tenho conseguido fazer devido os incentivos do banco no caso o BASA [Banco da Amazônia] e do governo também’’, disse.

Tanques dos alevinos são protegidos contra predadores. Foto: Vanessa Moura/Portal Amazônia

Potencial

Martim acredita no potencial de Rondônia para a criação de peixes. ‘‘Eu acredito no peixe. Acredito que não há mais parada, vai crescer. Eu comparo o peixe com o boi. Eu costuma falar assim há 30 anos atrás quantos frigoríficos de boi tinha em Rondônia? Nenhum, ou um ou dois. O mesmo vai acontecer há 30,40 anos com o peixe.  Nós vamos ter inúmeros frigoríficos de peixe em nossa região’’, avalia Martim. O fato da produção ser em um dos estados amazônicos é visto como mais uma vantagem pelos piscicultores locais.

 

Pintados foram retirados do tanque e seguirão para Brasília. Foto: Vanessa Moura/Portal Amazônia

‘‘O peixe para o mundo só de você falar que é da Amazônia já é um grande selo, uma grande marca. Então a gente está confiante de que vai se desenvolver’’, considera o piscicultor. Além de rentável, a piscicultura é considera uma atividade sustentável. ‘‘O peixe ele não dá poluição dos rios. Se eu tiver uma área poluída não vou conseguir produzir meu próprio peixe. A água descartada aqui [dos tanques] volta para os rios mais adubada. Só vai melhorar a situação das águas dos rios’’, aponta Martim.

Criação de peixe é considerada um atividade sustentável. Foto: Vanessa Moura/Portal Amazônia

O clima amazônico é outro fator positivo para a piscicultura. ‘‘Aqui é uma região ótima para o peixe de água doce. É uma região que chove muito, não tem frio. Então é 100% positiva. O tambaqui, principalmente, não se dar com frio. E o nosso clima aqui é favorável: quente e chuvoso. E também se gasta menos. Hoje está sendo bastante desenvolvida a piscicultura em bomba de água, mas na época das chuvas tem um gasto menor com energia, uns 30% de redução’’, avalia.

 Incentivo

Martim orienta aqueles que assim como ele queiram investir no setor. ‘‘O primeiro passo é adquirir a propriedade, depois regularizar perante o governo e órgãos competentes como a Sedam [Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental] para que você possa trabalhar regular. Porque se você está regular, se você está dentro das leis você tem condições de conseguir empréstimos’’. Ele reforça que vale a pena apostar na piscicultura.

‘‘Muitas vezes a gente vê o caboclo lá na roça com um negócio pequenininho e ele tem medo de pegar o dinheiro do banco e aumentar o potencial de produção. O que eu falo é que não tenham medo. Regularize suas terras, procurem técnicos da Emater [Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural] ou particulares porque é uma coisa que vale a pena. Se você tem uma propriedade pequena você tem condição de produzir 10 vezes mais do que produz no boi’’, considera Martim.

 

Piscicultor avalia como positivo investimento feito no setor. Foto: Vanessa Moura/Portal Amazônia

Para Martim, os investimentos que são feitos na piscicultura são incentivos para os produtores. ‘‘A gente ainda não tem um diagnóstico preciso dessa melhoria, mas a gente acredita que na medida que nós conseguimos colocar o nosso produto mas direto na mesa do computador vai melhorar o preço porque existe ao atravessador. Se acontecer de ter os entrepostos e quebrar essa barreira e podermos deixar mais próximo do consumidor a gente acredita que possa ter acréscimo no lucro’’, afirma.

O piscicultor também ver com otimismo os frigoríficos que estão sendo instalados no Estado. ‘‘É importantíssimo. Você produz tem que ter alguém para levar esse produto e se tem mais pessoas levando nosso produto vai existir a concorrência e aí a chance se ter um melhoramento do preço’’, acredita.

Ampliação

Martim acredita tanto no potencial de crescimento da piscicultura que já planeja aumentar a produção. Mais 10 tanques foram escavados ‘‘A minha propriedade só tem 20 alqueires, mas tem um projeto para tirar 600 toneladas por ano. É uma propriedade pequena com uma produção a médio e grande porte. Se fosse boi precisaria ter uma propriedade muito grande A criação de peixe é investimento alto, a ração é cara, mas tem retorno’’, disse.

Martim inicia ampliação da produção de peixe em novos tanques. Foto: Vanessa Moura/Portal Amazônia

O setor cresce, mas ainda enfrenta desafios. Um deles é o alto custo da ração dos peixes.  ‘‘São poucas as fábricas de ração. Os fabricantes não dão conta da produção’’. Em Rondônia há apenas uma fábrica de ração de peixes localizada no município de Rolim de Moura. A ração é responsável por 70% dos custos de manter a criação de peixe, segundo Martim. Por conta do encarecimento do valor da ração a margem de lucro que era de até 50% agora fica em torno de 25 a 30%.

Espécies

Tambaqui, pirarucu  e pintado são as principais espécies criadas em Rondônia. Martim até tentou a criação do pirarucu, mas preferiu o tambaqui e o pintado.  Nos tanques a água que vem de um igarapé próximo por bombeamento passa por correção. Martim explica o motivo. ‘‘A nossa água aqui o PH [potencial hidrogeniônico] é 4, a alcalinidade é baixíssima cerca de 5,10 e para ter a produção de peixe a alcalinidade precisar estar em pelo menos 30 e o PH 7’’, conta.

As águas dos tanques de peixes passam por correção. Foto: Vanessa Moura/Portal Amazônia

Corrigida a água, cria-se uma vegetação. Situação adequada para o peixe ter oxigênio. A presença dessa vegetação é que dar o aspecto esverdeado das águas de tanques. Martim conta com a ajuda de um engenheiro que o orienta sobre as medidas que devem ser adotadas para a manutenção da produção de pescado e mais um funcionário que faz a manutenção diária do que é necessário para manter a criação de peixes.

Despesca

Nossa equipe chegou a propriedade de Martim quando ele fazia a despesca de um dos tanques. Para retirar os peixes da água foram necessários 15 trabalhadores e uma rede grande para alcançar os cerca de 85 metros de largura do peixe. Os peixes de Martim vão para os estados de São Paulo, Brasília, Goiás e Maranhão.

Os peixes de Martim seguem para vários estados do país. Foto: Vanessa Moura/Portal Amazônia

A última ‘‘safra’’ retirada de tanques de Martim já estão certas de seguir para Brasília.  O comprador Wagner José de Melo que trabalha para o frigorífico da capital do Brasil acompanhou a despesca do peixe. ‘‘A gente pega aqui [em Rondônia] entre 60 a 80 toneladas por semana. A produção de tambaqui, principalmente, é mais aceitável. Lá também tem, mas o sabor é diferente. O frigorífico recebe peixe de todo lugar do Brasil e até da Argentina e de lá distribuímos para outros estados’’, conta. É o peixe de Rondônia rompendo fronteiras.

Uma consideração sobre “Rondônia aguarda instalação de entrepostos de piscicultura”

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