Porque a corrupção aumentou nas obras públicas

André Araújo

Um dos fatores que propiciou notável aumento de corrupção nas obras públicas brasileiras foi o DESMONTE DOS DEPARTAMENTOS DE ENGENHARIA DAS ESTATAIS. Até o fim do governo militar, as estatais produziam o PROJETO BÁSICO, muitas vezes o PROJETO EXECUTIVO e fiscalizavam a obra pelos seu próprio corpo de engenheiros.

A concepção, idealização, traçado, escolha de materiais, técnicas, arquitetura, paisagismo, soluções ambientais das obras, a partir da formatação do projeto tinham boa estimativa de custo, havia engenheiros de acompanhamento e fiscalização das obras, os DER e o DNER tinham ótima engenharia, até com revistas próprias publicadas a cada dois meses. Eu era adolescente e tinhamos um vizinho que era engenheiro do DER de São Paulo, tinha grande orgulho disso, viajava o Estado todo, conhecia profundamente a geografia, a topografia, a geologia do Estado, adorava o trabalho.

Grandes empreiteiros, como Eduardo Celestino Rodrigues, da Cetenco, começaram a vida com engenheiros do Estado. A Companhia do Metrô de São Paulo tinha uma excelente engenharia, chegou a ter 400 profissionais. A CESP, que era resultante da fusão de trens companhias do Estado, uma para cada bacia fluvial, tinha os melhores engenheiros de barragens. A mesma coisa com Furnas, alguns viraram sumidades como Otavio Marcondes Ferraz, Mario Thibau, Mario Bhering, Lucas Nogueira Garcez, Guy Vilela (da Cemig).

Esses corpos de engenheiros tinham capacidade de produzir PROJETOS BÁSICOS E PROJETOS EXECUTIVOS, mantinham pleno controle dos projetos, as empreiteiras apenas executavam as obras sob rédea curta dos Departamentos de Engenharia. Era difícil enganá-los com aditivos de fantasia, como se faz atualmente.

E HOJE? Entrega-se uma folha de papel ao contratante do projeto e acabou, ele que faço tudo, é TUDO terceirizado, do projeto básico à fiscalização. A MARGEM para aditivos se alarga, ninguém mais sabe quanto custa a obra, o cliente, que é o Estado, PERDEU O CONTROLE DOS CUSTOS. Por isso, os Tribunais de Contas a cada etapa interrompem tudo porque há um contínuo descontrole de custos.

Essa é a porta larga da mega corrupção. Isso começou APÓS o fim do governo militar e só vem aumentando.

A corrupção NÃO SE CURA nas penitenciarias paranaenses. A corrupção se estreita com BOA GOVERNANÇA NAS ESTATAIS, COM INTELIGÊNCIA E LÓGICA, com boas idéias na gestão das obras, com presença fisica dos dirigentes nos canteiros. Hoje, nenhum diretor de estatal põe o pé na lama, fazem questão de não ir para ver.

Me assusta imensamente a simploriedade e a pobreza intelectual com que se está tratando aqui do tema CORRUPÇÃO.

É um assunto COMPLEXO que exige soluções COMPLEXAS, ABRANGENTES, porque tem relação com economia, com emprego, com eficiencia, pouco tem a ver com moral e ética,é uma questão DE ESTADO, de administração e não de inquisição e punição vingativa. Se os métodos não mudarem não há porque acabar a corrupção, se a raiz dela não mudar. Não vi NENHUM procurador se debruçar sobre essas causas, parece que não tem nenhum interesse na solução do problema pelas causas. Talvez porque isso dá muito mais trabalho do que expedir um mandato de prisão.

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