Implantada há mais de 100 anos, régua mede nível do rio em relação ao mar e ajuda na previsão das enchentes
Painel demonstrativo das maiores enchentes em Manaus. Foto: Clarissa Bacellar/Portal Amazônia
MANAUS – Ribeirinhos, comerciantes e moradores da orla da capital amazonense, principalmente na área do centro da cidade, sofrem anualmente com os efeitos da cheia do rio Negro. Apesar do painel demonstrativo das máximas de enchente no Porto de Manaus ter se tornado até ponto turístico, é arégua de medição, próxima ao painel, que aponta os verdadeiros efeitos da subida do rio.
O engenheiro civil Valderino Pereira da Silva é responsável pela medição há 25 anos. É ele quem conta que a régua foi instalada em 15 de setembro de 1902, no Porto de Manaus. O objetivo era analisar se o rio oferecia calado (distância da linha d’água até a parte inferior das embarcações) na orla da cidade.
“Posso afirmar que a partir da implantação da Zona Franca esse serviço de leitura do nível do rio Negro teve um alcance muito grande. Até então era apenas uma leitura diária. O interesse e a importância fizeram com que nós, do Porto, que tínhamos apenas que fazer a leitura, precisássemos estudar mais para entender e explicar os efeitos desse processo”, contou.
A régua fica próximo ao píer do Armazém 15, no Porto. “O mais importante dessa leitura é que foi determinado um referencial de nível (RN) no valor de 62,61 metros, em referência ao nível do mar. A partir daí, calculamos o nível do rio”, explicou ao Portal Amazônia.
Cálculos
O nível do rio é resultado de dois cálculos. O primeiro deles, segundo Valderino Silva, define o nível do rio Negro em comparação ao do mar: faz-se a leitura da régua e abate-se o RN de 62,61 metros. Nesta segunda-feira (1), por exemplo, o RN foi de 92m menos 62,61m. O resultado é a cota do dia: 29,39m acima do nível do mar.
Régua de medição do nível do Rio Negro em Manaus. Foto: Clarissa Bacellar/Portal Amazônia
Para chegar ao resultado da alteração do nível do rio, a mínima do ano anterior (que neste caso é 13,78m) é subtraída pela cota do dia (29,39m). Ou seja, em 2015, o rio Negro subiu 15,61 metros. A medição e os cálculos são feitos todos os dias entre 6h30 e 7h da manhã. As informações servem de base para órgãos como o Serviço Geológico do Brasil (CPRM).
O supervisor chefe do setor de manutenção do Porto fez questão de lembrar que por mais que existam estudos, previsões “certeiras” sobre ser ou não uma cheia de grandes proporções são difíceis. “Nós ainda não conhecemos a força da natureza e não dá para fazer afirmações do que vai acontecer. O que sempre digo é que temos que estudar e prestar mais atenção a essas coisas”, afirmou.
A maior cheia do rio Negro em Manaus foi registrada em 2012, com 29,97 metros. A pior vazante foi registrada em 2010, com 13,63 metros.