Com duas horas de gravação, a repórter vivenciou pelo menos quinze situações em que sofre algum tipo de assédio; Para ela, o machismo vai trancando as mulheres em “calabouços psicológicos”
26/08/2015
Brasil de Fato
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Foto: Reprodução |
Com uma câmera escondida, a jornalista Sávia Barreto percorreu ruas do Centro e Zona Sul de Teresina, capital do Piauí, para mostrar as situações de assédio que fazem parte do cotidiano de muitas mulheres no Brasil. A ideia foi inspirada em um vídeo feito em Nova Iorque que denunciava o assédio machista que as norte-americanas sofrem.
A editora-chefe do portal O Olho conta que se sentiu desamparada como se estivesse sozinha, mesmo com os produtores por perto, já que tinha que passar por lugares públicos sujeita a sofrer assédio masculino.
“Tirando o microfone escondido da bolsa, usei o tipo de roupa que eu e milhares de teresinenses (incluindo as mães, filhas e irmãs dos meus assediadores) usamos todos os dias para ir à rua. Meu produtor caminhava à frente, sempre a alguns passos de distância, permitindo me filmar com uma câmera escondida acoplada em sua mochila”, explica a jornalista.
Para ela, o machismo vai trancando as mulheres em “calabouços psicológicos” sempre que vai “tolhendo pequenas liberdades diárias femininas, inclusive a de sorrir e se vestir como bem entender”. Ela ainda diz que é tão intrínseco esse comportamento na sociedade que a frase “não olhe para os lados, evite passar perto de homens, se falarem algo sobre seu corpo, não responda” é um ensinamento passado de mãe para filha.
“Meu temor não era motivado por me considerar gostosa, linda e estonteante (porque não sou e porque mesmo uma mulher que é, não merece receber nenhum tipo de agressão verbal e sexual), mas porque basta ser mulher, estar andando sozinha nas ruas, que quase prontamente alguns homens sentem-se no direito de avaliar a forma física e até de fazer convites sexuais”, descreve Sávia.
Expressões como “gostosa”, “bundinha”, ”ai, se eu moro com essa deusa” e “sensacional” são algumas das quinze frases de assédio que podem ser notadas no vídeo, além dos olhares e gestos sugestivos de muitos dos homens. “Lá está você pagando o plano de saúde da sua mãe no Centro da cidade, quando alguém que você nunca viu, e que sequer cruzou os olhos, alheio aos seus problemas e vontades, grita: ‘Vamos lá em casa delícia?’. Não é um convite, é uma invasão”, enfatiza Sávia.