Zona Portuária em festa

Região recebe, neste fim de semana, o Circuito Favela Criativa. Música, dança e arte urbana fazem parte da programação

Secretaria da Cultura do Rio de Janeiro

O Baile Black Bom, criado em 2013 e que reúne de 4 a 5 mil pessoas na Pedra do Sal, é um dos destaques da programação  (Foto: Divulgação/Consciência Tranquila)
O DJ Mam apresenta sua mistura de ijexá, funk, carimbó, xote, samba de roda, reggae, dancehall, dubstep, zouk bass e rock neste domingo (30), a partir das 19h30
O grupo Soul de Brasileiro se apresenta neste domingo (30), a partir das 19h

Depois de passar por Vila Kennedy, Rocinha, Manguinhos e Cidade de Deus, o Circuito Favela Criativa, a primeira maratona cultural das favelas cariocas, chega à Zona Portuária do Rio neste fim de semana (29 e 30 de agosto), mais precisamente ao Largo São Francisco da Prainha, que recebe uma intensa programação. Por dia, serão oito horas seguidas de música, dança, artes visuais, oficinas, gastronomia e artesanato, das 14h às 22h. O objetivo do projeto, promovido pela Secretaria de Estado de Cultura (SEC) e coordenado pela Mil e Uma Imagens, é mostrar que as ações culturais nas favelas vão muito além do funk e do samba.

“O Circuito fez um grande levantamento das ações culturais das favelas, mostrando que, nesses lugares, não tem só funk e samba, mas tem também rock, cinema, moda e ações culturais tradicionais, como Bumba Meu Boi e Folia de Reis. Os principais objetivos são levantar, mapear e apresentar essas ações, que são ricas, plurais e dialogam entre si, tanto para o público quanto para outros grupos, no sentido de dar palco, luz e som de qualidade para que eles se sintam reconhecidos. Muitos nem se sentem artistas, até por causa de baixa auto-estima”, diz a idealizadora e coordenadora do projeto, Marina Vieira.

Entre os destaques da programação, o som do Raízes da Liberdade, a mistura de hip hop, funk dos anos 1970 e black music do Baile Black Bom, que, desde 2013, arrasta de 4 a 5 mil pessoas até a Pedra do Sal, nos segundos sábados de cada mês, e a oficina de literatura Letra Tera, que faz sua estreia, depois de seis meses de planejamento. “Esta vai ser a primeira oficina que vou fazer para o público, estou dando início ao projeto. A oficina começou com um desejo de poder dar ferramentas para as pessoas para que elas possam escrever suas próprias histórias. No final de semana, se conseguirmos sair de sala com uma história escrita, já seria um ganho”, comenta o idealizador do projeto, Felipe Boaventura, de Santa Cruz.

Marina aponta outros destaques. “Teremos a velha guarda da Vizinha Faladeira, o DJ Mam, a Banda da Conceição, que atrai muito público, oTambores de Olokum, que é um bloco que resgata os ritmos maracatu e negros, o Afoxé dos Filhos de Gandhi, que vai abrir o evento com uma roda de samba. Todos os artistas selecionados são da região ou estão ligados a ela de alguma forma. Estamos trazendo também um grupo chamado Mangue Band, de Manguinhos, outro chamado Soul de Brasileiro, de Vila Kennedy, e o Noite Faveleira, que faz muito sucesso em Acari. Esses já são destaques do Circuito que estamos trazendo. O projeto está produzindo seus próprios hits, o que é muito bacana”.

Circuito invade a Pequena África

A Zona Portuária, que passa por um intenso processo de revitalização, abriga locais como a Pedra do Sal, o Cemitério dos Pretos Novos e o sítio arqueológico do Cais do Valongo, por onde estima-se que um milhão de negros tenham adentrado a cidade para serem comercializados como esravos. Depois de cerca de um século aterrado, acabou sendo redescoberto recentemente, graças às obras.
“A região portuária ficou tanto tempo ‘largada’, mas, de alguma forma, preservou uma cultura ríquissima, que dialoga muito com a cultura negra, que esteve lá presente esse tempo todo. Acho que vai ser o circuito mais interessante. Lá tem a Vizinha Faladeira, que é uma das primeiras escolas de samba do Rio, por exemplo. Tem uma cultura muito forte e impactante que não tinha tanta visibilidade. Acho que o Circuito está ajudando a dar essa visibilidade e a mostrar esse conjunto de ações culturais da região. O porto está numa posição central e atende à Zona Sul, ao Centro e à Baixada Fluminense, então ele consegue um público muito interessante e eclético”, afirma a coordenadora do projeto, fazendo um balanço do circuito até agora. “O público tem gostado muito e tem me surpreendido, porque a maior parte das comunidades não conhece suas próprias atividades culturais. Tem sido bem prazeroso para todo mundo”.

Em setembro, o projeto segue para o Complexo do Alemão/Penha (dias 5 e 6) e Grande Tijuca (dias 12 e 13), com apresentações aos sábados e domingos, das 14h às 22h.

Colaboração de Danielle Veras

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