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Foto aumenta suspeita de participação de Forças Armadas na morte de Zuzu Angel

Agência Brasil

Uma fotografia do local do suposto acidente que resultou na morte da estilista Zuzu Angel, em abril de 1976, aumentou as suspeitas da Comissão Nacional da Verdade (CNV) do envolvimento das Forças Armadas no caso.

A foto, apresentada pelo ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) do Espírito Santo Cláudio Guerra, mostra o coronel do Exército Freddie Perdigão ao fundo, perto do veículo acidentado. Apontado como autor de torturas e assassinato de pessoas durante o regime militar, Perdigão morreu na década de 90.

Mãe de Stuart Angel, integrante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) que desapareceu em 1971, após ter feito críticas ao regime, Zuzu deu projeção internacional ao caso e passou a ser considerada “presença incômoda para o regime, que tinha todo interesse em seu desaparecimento”, disse o presidente da CNV, Pedro Dallari. Segundo ele, a foto deixa claro que houve algum tipo de participação das forças militares no acidente ocorrido no Rio de Janeiro.
 

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Coronel do Exército Freddie Perdigão aparece ao fundo, perto do veículo. Ele é apontado como autor de torturas e assassinato 

“A grande revelação [obtida durante os depoimentos feitos nesta semana] veio a partir do depoimento de Cláudio Guerra, que apresentou uma fotografia na qual o oficial das Forças Armadas Freddie Perdigão aparece junto ao veículo acidentado. Isso estabelece um vínculo muito forte entre as Forças Armadas, já que Perdigão era notório operador em casos de violação de direitos humanos, e a morte de Zuzu Angel”, disse Dallari. “Trata-se de uma foto nova. Ela não estava nos autos do inquérito, e é uma revelação e documento muito importante”, acrescentou.

Dallari lembra que as Forças Armadas sempre negaram relação com o acidente que resultou na morte de Zuzu. “Há muitas semelhanças entre essa foto e outras usadas pela perícia na época do acidente. Todas tinham o mesmo padrão. É por isso acreditamos que ela tenha sido feita pelos peritos. Nossas suspeitas de envolvimento dos militares no caso foram reforçadas depois que o Cláudio nos contou que, ainda na década de 80, foi procurado por Perdigão, preocupado com a foto tirada”, informou o presidente da CNV.

Ainda segundo Dallari, Perdigão teria confessado a Cláudio Guerra participação no planejamento e na simulação do acidente de Zuzu Angel. “As investigações certamente, confirmarão essa hipótese”, completou.

Malhães caçou argentinos asilados

Coronel da tortura prendeu líderes opositores e os devolveu dopados e engessados a militares da Argentina
O DIA|JULIANA DAL PIVA

Rio – Não à toa, o codinome do coronel reformado Paulo Malhães durante a ditadura era ‘Dr. Pablo’, que significa Paulo em espanhol. Após o aniquilamento das organizações guerrilheiras do Brasil, o oficial ajudou militares argentinos a capturar opositores estrangeiros asilados no Rio. É o que revela a íntegra dos depoimentos do coronel tomados pela Comissão da Verdade do Rio e obtidos pelo DIA .

À Comissão da Verdade do Rio, antes de morrer, Malhães disse que capturou o líder dos montoneros e o entregou dopado aos militares argentinos

Foto:  José Pedro Monteiro / Agência O Dia

Em um relato frio e irônico Malhães contou, sem nomear, que capturou um líder do grupo Montoneros que vinha num voo de Buenos Aires, mas tinha como destino a Venezuela. O preso foi entregue aos militares de seu país e o retorno à capital porteña teve até o aval de um médico que dopou e engessou a vítima. Tudo para não chamar atenção.

“Eu guardei os frasquinhos que o médico me deu junto com as finalidades. Esses frasquinhos foram até usado pelo SNI, um cara me pediu uma ampola e tal. Maravilhosos os frasquinhos (rindo). Eles serviam para várias coisas, fazer tu ter um AVC, por exemplo”, contou Malhães. 

Monica Binstock e sua família, antes de desaparecer no Brasil

Foto:  Reprodução

O relatório da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos mostra que ao menos três integrantes dos montoneros foram presos no Brasil. Horacio Campiglia e Monica Binstock voltavam do exílio para a Argentina em março de 1980. Os dois saíram do México, num voo da empresa aérea venezuelana Viasa, que fazia conexão em Caracas com um voo da Varig rumo ao Rio. Familiares acreditam que eles foram sequestrados no aeroporto do Galeão. Os dois nunca mais foram vistos com vida. 

O capelão dos Montoneros Jorge Oscar Adur também desapareceu no Brasil em julho de 1980. A visita de Adur tinha como objetivo uma reunião com diversos grupos de ativistas políticos, particularmente cristãos da luta sindical e camponesa, além de familiares de desaparecidos e de presos políticos argentinos. 

No depoimento de Malhães, que será apresentado ao público hoje, o militar também contou que o coronel Wilson Machado confessou internamente ao Exército que a bomba explodiu no estacionamento do Riocentro em 1981 porque estava sendo montada dentro do carro no colo do sargento Guilherme do Rosário. “Foi montar ali. Aí ele bateu com a corrente que segurava o relógio, que é aquela metálica. Ele bateu nos contatos e a bomba explodiu… pronto, só isso”, afirmou.

Morto há pouco mais de um mês durante um assalto em seu sítio, em circunstãncias ainda não esclarecidas, Malhães admitiu à Comissão do Rio que tinha receio de falar sobre seu trabalho no Éxército. Questionado sobre retaliações, na segunda conversa, ele disse que ficou “matutando”. “ Que eu estava correndo um grande risco”, ponderou. Pouco depois também disse que não falava sobre o assunto ao telefone e não escrevia no computador. “Nem pensar”, enfatizou.

Enterros na floresta

Ao contar que o primeiro destino do corpo do deputado federal cassado Rubens Paiva foi uma cova próxima à estrada do Alto da Boa Vista, o coronel Malhães admitiu que o DOI-Codi tinha a prática de enterrar guerrilheiros mortos na Floresta da Tijuca. “Para mim, a mania que eles tinham era enterrar”, afirmou o oficial. Questionado sobre o motivo, ele foi direto: “Porque fica mais difícil você achar.”

De acordo com ele, um dos corpos pode ter sido o do dirigente do PCBR e ex-deputado federal Mário Alves. O coronel contou que soube da prisão do militante e, diferente de Paiva, o assassinato não teria sido acidental. “Posso até julgar que foi, mas acho difícil. Eu mesmo acho difícil”, confessou. 

Malhães confirmou que, além dos militares, atuava no DOI-Codi, na época, o detetive da Polícia Civil Fernando Próspero Gargaglione de Pinho. Ele e o coronel reformado Armando Avólio Filho teriam trabalhado juntos e Gargaglione foi trazido para a repressão por Avólio. 

O coronel confessou ainda que os militares usavam como aparelho uma delegacia no Alto da Boa Vista, onde hoje é o Corpo de Bombeiros. Para ele, tanto Avólio como Gargaglione podem estar envolvidos na primeira tentativa de ocultação de cadáver de Rubens Paiva. “Porque o Avólio gostava de movimento. Era um cara que gostava de dar porrada”, denunciou Malhães. Avólio foi a principal testemunha de acusação da denúncia do caso aceita pela Justiça.

TRECHOS DO DEPOIMENTO

RUBENS PAIVA 
“Ele estava bem enterradinho. É que a umidade penetra, passa por baixo e deteriora a carne muito rápida. Mas todo mundo enterrado direitinho”, afirmou Malhães sobre a descoberta do corpo de Rubens Paiva na praia do Recreio, como também admitiu ao DIA em março . 

SEQUESTRO 
“Botou o cara (argentino) para dormir engessado. Ele como médico se apresentou ao piloto. Tudo direitinho. Todas as formalidades cumpridas…Foi na maca. O consulado argentino aqui tratou de acertar tudo.” 

ESQUADRÃO DA MORTE 
“Eu fui membro honorário, eu não fui membro efetivo. Eu era conselheiro porque me chamaram lá e me deram ‘Oh, vou dar o escudinho do DOI para você botar.’ Eu usava no meu carro. Não escondia isso não. Mas, não tinha qualquer ligação com negócio de morte de vagabundo. Não era comigo.

GENERAL MÉDICI 
“Quando aconteciam problemas, o (presidente) Médici mandava me chamar. Eu ia no Palácio. Ele perguntava: ‘e aí?’ Eu dizia: ‘O senhor quer que eu resolva?’ ‘Então tá Malhães, resolve”.

TORTURA 
“Eu tenho que aprender. Eu era um torturador. Eu tinha um aparelhinho de choque especial. Então, ainda raciocinava. Eu vim evoluir rápido. Mas levei algum tempo para evoluir.” 

Tailândia: mais de 200 portais na internet são censurados pela Junta Militar

Agência Brasil

A Junta Militar que governa a Tailândia bloqueou 219 páginas na internet, alegando que constituem ameaça à “segurança nacional”, informou a imprensa local nesta quarta-feira (28).
 
O Exército também pretende pedir a colaboração de empresas de redes sociais, como o Facebook ou o Twitter, e de aplicações de chat, como o Line, para eliminar as contas de internautas que difundam “conteúdos ilegais”, segundo o diário Prachatai.
 
O secretário permanente do Ministério da Informação e Tecnologias de Comunicação, Surachai Srisakam, disse, nessa terça-feira (27), que está em curso a elaboração de um plano para que a vigilância da Internet seja mais eficiente.
 
Quem difundir informação ilegal será detido pelas autoridades militares, sob acusações que podem resultar em penas de prisão, destaca o jornal.
 
O chefe do Exército da Tailândia, general Prayuth Chan-ocha, assumiu o controle do poder no país na semana passada, após considerar que as tentativas do governo interino e dos manifestantes antigovernamentais para alcançar um acordo fracassaram depois de sete meses de protestos nas ruas.
 

Justiça recebe denúncia do MP contra acusados da morte de Rubens Paiva

Os cinco militares são acusados do crime e de ocultar o cadáver do ex-deputado durante a Ditadura Militar

O DIA|JULIANA DAL PIVA

Rio – A Justiça Federal do Rio recebeu nesta segunda-feira a denúncia ajuizada pelo MPF contra cinco militares, em razão do homicídio e ocultação de cadáver de Rubens Paiva. Trata-se da primeira decisão judicial da história do Brasil que afasta os argumentos de anistia e prescrição com relação aos crimes instantâneos (não-permanentes) cometidos por agentes da ditadura militar entre 1964 e 1979.

A decisão é do juiz Caio Márcio Gutterres Taranto, da 4ª Vara Federal Criminal, que ressaltou que“a qualidade de crimes contra a humanidade do objeto da ação penal obsta a incidência da prescrição”. “O homicídio qualificado pela prática de tortura, a ocultação do cadáver (após tortura), a fraude processual para a impunidade (da prática de tortura) e a formação de quadrilha armada (que incluía tortura em suas práticas) foram cometidos por agentes do Estado como forma de perseguição política. (…) A esse fato, acrescenta-se que o Brasil (…) reconhece o caráter normativo dos princípios de direito costumeiro internacional preconizados (…) pelas leis de humanidade e pelas exigências da consciência pública” , assinalou o juiz.

O deputado federal Rubens Paiva foi preso em casa na manhã do dia 20 de janeiro de 1971 por agentes do Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica. Nunca mais retornou com vida. Ele foi levado a 3ª Zona Aérea e na mesma noite foi entregue a agentes do DOI-Codi onde foi torturado até a morte, possivelmente no dia seguinte.

Na semana passada, o Ministério Público Federal do Rio finalmente concluiu pela primeira vez uma investigação oficial do estado sobre sua morte. Os procuradores da República do Grupo Justiça de Transição denunciaram por homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e associação criminosa armada: o general José Antônio Nogueira Belham, ex-comandante do DOI-Codi, e o coronel Rubens Paim Sampaio, ex-oficial do Centro de Informações do Exército. Eles podem ser condenados até 37 anos e seis meses de prisão.

Já pelos crimes de ocultação de cadáver, fraude processual e associação criminosa armada foram denunciados o general reformado Raymundo Ronaldo Campos e os capitães reformados e irmãos Jurandyr Ochsendorf e Souza e Jacy Ochsendorf e Souza. As penas para os três podem superar dez anos de prisão.

“Não é um caso de desaparecido. É um caso de assassinato. O que está desaparecido é o corpo”, defendeu Vera Paiva, filha de Rubens Paiva. Ele era deputado e foi cassado logo após o golpe militar. No dia 20 de janeiro de 1971, Paiva foi levado de sua casa no Leblon por militares do Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica e nunca mais voltou.

O MPF ofereceu à Justiça novas provas — documentais e testemunhais — que confirmam a participação dos cinco agentes. De acordo com o procurador da República Sérgio Suiama, o depoimento do coronel reformado Armando Avólio Filho foi fundamental para as investigações. Ele foi testemunha das torturas e da omissão do general Belham em impedir o homicídio e já havia sido apontado pela Comissão Nacional da Verdade como um dos autores do crime.

Também foi identificado o envolvimento de outros nove agentes no crime. São eles, o brigadeiro João Paulo Moreira Burnier, comandante do Cisa, o coronel Freddie Perdigão Pereira, ex-oficial do CIE, o general Syzeno Sarmento, ex-comandante do I Exército, coronel Ney Mendes, integrante do DOI, coronel José Ney Fernandes Antunes, comandante da Polícia do Exército, o coronel Paulo Malhães, ex-oficial do CIE, o delegado Orlando Rangel e o tenente Antonio Hughes de Carvalho. Todos já faleceram.

Para o MPF, a denúncia é baseada em crimes de estado contra a humanidade e que não estariam cobertos pela Lei de Anistia. “Não estamos discutindo a validade da lei”, afirmou o procurador.

Coronel Malhães confessou que participou de ação para ocultar cadáver

“Recebi a missão para resolver o problema, que não seria enterrar de novo. Procuramos até que se achou (o corpo), levou algum tempo. Foi um sufoco para achar (o corpo). Aí seguiu o destino normal.” Com essas palavras, em 20 de março, o coronel Paulo Malhães admitiu ao DIA que tinha participado de missão para dar um destino final aos restos mortais de Rubens Paiva.

Malhães contou que recebeu uma ordem do gabinete do ministro do Exército em 1973 para desenterrar o corpo que estava na areia, na Praia do Recreio dos Bandeirantes, e ocultá-lo definitivamente.

Na apresentação da denúncia, o procurador Sérgio Suiama ressaltou a importância dos documentos que mostram a relação entre Malhães e seu chefe, o general Belham. “O Malhães disse que retirou o corpo do Rubens Paiva da praia e levou para outro lugar. Ele não fez isso sozinho. Ele fez isso a mando de alguém”, apontou o procurador.

Na entrevista, Malhães contou que participaram da missão junto com ele o coronel reformado José Brandt Teixeira, parceiro de diversas outras operações. Além dele, os sargentos Jairo de Canaan Cony e Iracy Pedro Interaminense Corrêa. Apenas Cony está falecido

Malhães morreu 37 dias depois da entrevista, durante um assalto em sua casa, em circunstâncias ainda não esclarecidas. O caso é investigado pela Polícia Civil. Após a morte, a viúva contou ao DIA que ele admitiu a ela que participou da operação e que os restos mortais de Rubens Paiva foram jogados em um rio.

Audiência em SP lembra a perseguição aos negros na Ditadura

Na noite de terça-feira aconteceu na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo uma audiência pública sobre a repressão aos negros durante a Ditadura Militar. No evento foi lembrada a violência que atingiu esta população e a desigualdade social. 

“Os negros foram alvo do sistema econômico imposto pelo regime golpista e racista. Pois, naquele momento se intensificou, com maior força, a exclusão da população negra – que se viu em palafitas, favelas e subúrbios dos grandes centros urbanos”, ressaltou o manifesto lido na abertura da audiência.

Segundo levantamento da Comissão Estadual da Verdade,Rubens Paiva, 42 dos 437 identificados como mortos e desaparecidos políticos, eram negros. Entre eles, os guerrilheiros Carlos Marighella e Helenira de Souza Nazareth, morta na Guerrilha do Araguaia. “[Houve ainda] aqueles que foram submetidos a execuções sumárias e a desaparecimentos forçados pelos esquadrões da morte [grupos de extermínio com participação de policiais]”, acrescentou o manifesto.

Para José Arcanjo de Araújo, que participou dos movimentos grevistas no ABC Paulista, as gerações mais novas precisam saber como foi o processo de conquista de direitos. “Se eu, hoje com 70 anos, não transmitir o que vivi, amanhã a turma vai pensar que todos os direitos vieram de graça. Mas nada foi doado, veio tudo com luta”, constatou.

Araújo recordou que, durante as greves, chegava muitas vezes em casa com marcas de pancadas da polícia. Para ele, a truculência policial, institucionalizada pelo regime, perdura até hoje com conotações racistas. “Dizem que a ditadura passou. Mas a tortura continua nos porões das delegacias, principalmente para os negros”, advertiu.

Na avaliação do ator Carlos Costa, a violência policial contra a população preta e parda ocorria antes mesmo de os militares tomarem o poder. “Essa perseguição aos negros é coisa feia. Pega esse negro e põe logo na cadeia”, ironizou Carlão sobre como as forças de segurança reprimiam o samba e o carnaval de rua. “Era assim com a Força Pública, que tinha antes da Polícia Militar. Uns caras de uma ignorância danada.”

Apesar da repressão, Carlão diz que os artistas e foliões resistiam. “A gente estava na Praça da Sé, sentavam o porrete na gente. A gente corria para a Praça do Patriarca. Assim ficava a noite toda, com eles perseguindo a gente”, contou o ator, que trabalhou por 22 anos com o dramaturgo Plínio Marcos na produção de espetáculos teatrais.

Fonte: Terra 

Corpo de Rubens Paiva foi jogado em rio, diz viúva

Antes de morrer, coronel Malhães confessou à esposa ter mentido à Comissão da Verdade

O DIA|JULIANA DAL PIVA
Antes de morrer, coronel Malhães confessou à esposa ter mentido em depoimento à Comissão Nacional da Verdade

Foto:  Daniel Castelo Branco / Agência O Dia

Rio – Pouco antes de morrer, o coronel reformado do Exército Paulo Malhães confiou à mulher, Cristina, uma última revelação histórica. Ele admitiu à companheira dos últimos 25 anos que mentiu no depoimento prestado à Comissão Nacional da Verdade. Na ocasião, em março, ele negou que tivesse trabalhado na missão que ocultou definitivamente o cadáver do deputado federal cassado Rubens Paiva. Cinco dias antes, oDIA publicou uma entrevista em que o coronel assumiu ter recebido e concluído a missão dada a ele por oficiais do gabinete do então ministro do Exército Orlando Geisel, em 1973. Malhães disse a Cristina que os restos mortais de Paiva foram atirados em um rio.

À noite, depois do depoimento de quase três horas, os dois mal entraram na casa do sítio em Marapicu, Nova Iguaçu, e ela diz que não segurou a curiosidade sobre o assunto: “Aquilo que você disse sobre desenterrar o corpo do Rubens Paiva, era mentira ou verdade?”  E Malhães respondeu: “Era mentira. Eu fiz.”

Nas conversas íntimas do casal, Malhães não nomeava os guerrilheiros que torturou e matou. Em março, no entanto, ela conta que sentia no marido uma necessidade de desabafar sobre o caso. “A história do Rubens Paiva era a única que eu sabia. Ele falava recentemente e era um desabafar constante. Quando ele contou no depoimento aquela versão, eu estranhei. Só se fosse uma parte que eu não sabia porque ele já tinha me falado sobre isso antes. Ele não podia negar para mim. E o destino final do corpo foi um rio”, contou.

A viúva também disse que não entendia a atitude do marido em assumir a responsabilidade sozinho e não revelar os nomes de todos os oficiais e militares envolvidos na missão. Ao questioná-lo, ouviu do coronel que ele era honesto. “Eu perguntei a ele porque não dava os nomes de todos que tinham participado. Ele dizia que na época que trabalharam no Exército, eles (os colegas) eram leões e, quando acabou, se tornaram ratinhos. Acho que ele mudou a versão no depoimento por causa desses leões”, explicou ela.

Cristina diz que o marido não acreditava em represálias e que também achava possível que, no futuro, ele voltasse a esclarecer o caso. “Ele queria um tempo para a cabeça, mas acho que ele ia dizer a verdade em outro momento”, afirmou a viúva.

 

‘Foi um sufoco para achar’

No dia 19 de março, o coronel Malhães recebeu O DIA em sua casa, mesmo local onde foi assassinado há 12 dias, e contou que havia coordenado junto com também coronel reformado José Brandt Teixeira uma missão para desenterrar o corpo de Rubens Paiva em uma praia do Recreio dos Bandeirantes.

“Recebi a missão para resolver o problema, que não seria enterrar de novo. Procuramos até que se achou (o corpo), levou algum tempo. Foi um sufoco para achar (o corpo). Aí seguiu o destino normal”, disse, Malhães.

Rubens Paiva era deputado pelo Rio. Ele foi preso em 1971, torturado e morto. Seu corpo nunca foi achado

Foto:  Reprodução

Para localizar o corpo de Paiva, duas equipes trabalharam durante cerca de 15 dias na praia. Também participaram da ação os sargentos Jairo de Canaan Cony e Iracy Pedro Interaminense Corrêa. Apenas Cony está falecido.

Malhães admitiu na ocasião que sabia de quem era o corpo procurado. “Eu podia negar, dizer que não sabia, mas eu sabia quem era sim. Não sabia por que tinha morrido, nem quem matou. Mas sabia que ele era um deputado federal, que era correio de alguém”, contou.

Revelação da viúva constará no relatório final da CNV

Para a advogada Rosa Cardoso, membro da Comissão Nacional da Verdade, o esclarecimento prestado por Cristina Malhães é importante para o avanço no caso e também para o relatório final da CNV.

“É muito importante porque defaz a névoa que o coronel quis lançar à comissão, quando resolveu voltar atrás dizendo que não tinha cumprido a missão. Essa revelação ajudará o relatório final”, afirmou Rosa, que tomou o depoimento de Malhães.

Ex-coronel Paulo Malhães, que em março confessou ter sumido com o corpo do Rubens Paiva na época da ditadura, foi morto em casa

Foto:  José Pedro Monteiro / Agência O Dia

A advogada também considera que a afirmação de Cristina autêntica. “A declaração de Cristina, aparentemente, não pode ter nenhuma segunda intenção em relação ao fato. É uma declaração que transpira autencidade. Ela é uma pessoa que não tem interesse em distorcer fatos. Ela não teria porque inventar ou acusar ele de algo que não tenha acontecido”, avalia.

No dia 25 de abril, três criminosos invadiram a casa de Malhães. No fim da noite, Cristina encontrou o corpo do marido de bruços e com a cabeça em um travesseiro. Na semana passada, o caseiro do sítio admitiu envolvimento no assalto. O caso segue em investigação.

Calvário de Rubens Paiva

Prisão

Em 20 de março de 1971, Rubens Paiva foi preso e levado de sua casa por agentes armados da Aeronaútica (CISA) até o quartel da 3ª Zona Aérea

Morte

No mesmo dia em que foi preso, Paiva foi levado para o DOI-Codi, na rua Barão de Mesquita, onde foi torturado até a morte

Alto da Boa Vista 

Segundo Malhães, os militares do DOI-Codi enterram Paiva no Alto da Boa Vista, próximo a estrada. No mesmo local, também forjaram a versão de que Paiva foi resgatado por guerrilheiros quando era conduzido dentro de um fusca. Em janeiro, o general Raymundo Campos confessou a farsa à Comissão Estadual da Verdade

Praia do Recreio

Malhães disse ainda que no mesmo ano o corpo foi retirado do Alto da Boa Vista e enterrado em uma praia do Recreio. Em 1973, os restos mortais foram desenterrados e jogados em um rio não identificado

 

 

 

 

Caseiro confessa participação na morte do coronel Paulo Malhães

Rogério foi preso após prestar depoimento na especializada. Outros dois homens foram identificados e estão foragidos

O DIA|JULIANA DAL PIVA

Rio – Policiais da Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) prenderam, nesta terça-feira, Rogério Pires, o caseiro do sítio do coronel reformado do Exército Paulo Malhães. Rogério foi preso logo após prestar depoimento na especializada e confessar participação no crime, ocorrido na última quinta-feira no sítio do coronel, em Nova Iguaçu.

Contra ele foi cumprido mandado de prisão temporária, expedido pelo plantão judiciário, pelo crime de latrocínio (roubo seguido de morte). A polícia também já identificou outros dois participantes do crime. Ele estão foragidos.

Notícia da morte do coronel Paulo Malhães saiu primeiro em site de militar

Entre as primeiras pessoas que souberam da morte do coronel reformado do Exército Paulo Malhães na sexta-feira está o também coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-comandante do DOI-Codi de São Paulo (1970-1974). O DIA descobriu no Twitter do site de Ustra “A Verdade Sufocada” uma postagem sobre o assassinato de Malhães às 13h08 — 31 minutos antes da primeira notícia em página de empresa jornalística, às 13h39. O site “A Verdade Sufocada” tem o mesmo nome do livro escrito por Ustra, com sua versão sobre a repressão.

A postagem no Twitter traz um link para a matéria no site do militar. A notícia diz que Malhães foi morto com quatro tiros. Há também uma referência ao assassinato do coronel Júlio Molinas Dias em 2012, e que ele guardava em casa documentos do caso Rubens Paiva.

A polícia informou na sexta-feira que o corpo de Malhães tinha sinais de asfixia. A viúva, Cristina, contou que os bandidos cortaram o telefone da casa. O coronel Ustra mora em Brasília.

No site de Ustra, a informação sobre a morte do coronel Malhães foi divulgada às 13h08 da sexta-feira

Foto:  Reprodução Internet

O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Pedro Dallari, considerou a informação importante para as investigações. “Esse levantamento vai ser importante. Acredito que vão ter que ouvir pessoas em função disso. É uma informação relevante”, afirmou Dallari, que ressaltou que todas as hipóteses devem ser investigadas.

O assessor da Comissão da Verdade de São Paulo Ivan Seixas disse que o site é uma referência entre os militares. “É a mais importante referência dos torturadores. É altamente suspeito ter essa notícia antes mesmo da própria imprensa. Isso chama a atenção e acho que devíamos exigir que a PF entre no caso”, observou Seixas.

Durante entrevista ao DIA em março deste ano, Malhães contou que ele e Ustra tinham trabalhado juntos em algumas operações. Ustra também prestou depoimento à Comissão da Verdade, em maio de 2013. Na ocasião, negou sua participação em torturas e assassinatos.

Procurado para falar sobre o caso do coronel Paulo Malhães, Brilhante Ustra não retornou até o fechamento da edição.

MPF apreende documentos e computadores

O Ministério Público Federal no Rio de Janeiro e a Polícia Federal cumpriram ontem mandado de busca e apreensão na casa do coronel reformado Paulo Malhães, em Marapicu, em Nova Iguaçu.

Durante as buscas foram apreendidas três computadores, mídias digitais, agendas e documentos do período da ditadura, inclusive relatórios de missões das quais Malhães participou.

Peritos estiveram no sítio, em Nova Iguaçu, em busca de material que possa levar à identificação dos homens que assassinaram o militar e conversaram com o caseiro

Foto:  Daniel Castelo Branco / Agência O Dia

O mandado, feito no sábado por procuradores da República do grupo de trabalho Justiça de Transição, foi concedido pelo juiz federal Anderson Santos da Silva. Segundo o MPF, o objetivo era apreender documentos e possíveis provas que possam contribuir para a elucidação de crimes cometidos por servidores públicos durante a ditadura militar.

Paulo Malhães foi agente do Centro de Informações do Exército na década de 1970. Os procuradores já investigavam o militar devido aos relatos em que confessou ter torturado e assassinado presos políticos.

Em dezembro de 2013 e março de 2014, o MPF tentou, inclusive, intimá-lo a depôr, mas o militar recusou-se a receber a intimação. A recusa foi antes de ele ser ouvido pela Comissão Nacional da Verdade (CNV).

Em março, antes do depoimento à CNV, Malhães admitiu ao DIA que participara de torturas e mortes durante a ditadura e que integrara uma missão em 1973 para desenterrar e ocultar a ossada do ex-deputado federal Rubens Paiva, desaparecido dois anos antes.

EUA pedem anulação de quase 700 condenações à morte no Egito

AFP – Agence France-Presse

28/04/2014 

A Casa Branca denunciou energicamente nesta segunda-feira as condenações à morte impostas pela justiça egípcia a 683 supostos islamitas próximos ao ex-presidente Mohamed Mursi e pediu que fossem anuladas junto com outras penas anunciadas em março.

“O veredito de hoje, assim como o do mês passado, constitui um desafio às regras mais elementares da justiça internacional”, afirmou Jay Carmey, porta-voz da Presidência americana, em um comunicado no qual também evocou um “precedente perigoso”.

Carney assegurou que os Estados Unidos estão profundamente preocupados com a contínua utilização dos processos e condenações em massa no Egito, particularmente com a condenação à morte de 683 acusados hoje”.

“Esse veredito é completamente incompatível com as obrigações do Egito em relação aos direitos humanos”, acrescentou o comunicado. “Os dirigentes egípcios devem assumir uma posição contra essas medidas irracionais (…) e reconhecer que a repressão aos protestos pacíficos só servirá para alimentar a instabilidade e a radicalização que o Egito diz impedir”.

“Pedimos que o governo egípcio ponha fim aos julgamentos em massa, anule as condenações (desta segunda-feira) e as anteriores, e que faça o necessário para que os cidadãos tenham um julgamento justo”, diz o texto.

Entre os 683 condenados nesta segunda está o líder da Irmandade Muçulmana, Mohamed Badie.

O tribunal que determinou a pena é o mesmo que comutou para prisão perpétua 492 das 529 penas de morte determinadas em março, também contra seguidores de Mursi.

Tribunal egípcio condena 720 islamitas à morte

O Tribunal Penal de Minia, no sul do Egito, condenou nesta segunda-feira à morte 720 supostos seguidores da Irmandade Muçulmana por cometer atos de violência em dois casos separados, informou à Agência Efe o advogado da defesa Tareq Ibrahim.

O Tribunal Penal de Minia, no sul do país, ordenou remeter os expedientes de 683 processados ao mufti do Egito, Shauqui Alam, máxima autoridade religiosa, o que segundo o sistema judiciário egípcio significa que foram condenados à morte.

A maioria destas pessoas foram julgadas à revelia, enquanto entre os detidos se encontram alguns dirigentes islamitas, como Badía, que enfrenta acusações de atacar instituições públicas e a delegacia do distrito de Al Edua.

Em outro caso, o presidente do tribunal, o juiz Said Youssef, ditou pena de morte firme para 37 pessoas e prisão perpétua para outras 491 por seu envolvimento em atos violentos. Este segundo grupo de mais de 520 pessoas tinha sido condenado à pena capital em 24 de março e seus processos tinham sido remetidos ao mufti de forma provisória para que este emitisse uma sentença não vinculativa.

As famílias explodiram em prantos e gritos ao conhecer as sentenças, e insistiram em que seus familiares são inocentes. A decisão judicial de condenar à morte esse número tão elevado de pessoas não tem precedentes na história do Egito e despertou a críticas de países ocidentais e de organismos de direitos humanos.

Fonte: Terra

Latrocínio é hipótese mais provável da morte de Malhães, diz polícia

DIÁRIO DA MANHÃ|DANIELLY SODRÉ

O delegado William Pena Júnior, da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), afirmou que a hipótese mais provável para a morte do tenente-coronel reformado do Exército Paulo Malhães é a de latrocínio, roubo seguido de morte.  O delegado comandou o grupo de cerca de 20 policiais que permaneceram por quase duas horas no sítio do militar realizando uma perícia complementar. Já se sabe que os bandidos usavam luvas, para evitar a coleta das impressões digitais que poderiam ajudar na identificação deles.

“A primeira hipótese é latrocínio, mas as outras hipóteses (queima de arquivo, vingança) não estão sendo descartadas e vão ser estudadas”, afirmou o delegado. 

Willian disse não reconhecer como documento a Guia de Sepultamento do militar, que aponta as causas da morte como edema pulmonar, isquemia de miocárdio e miocardiopatia hipertrófica: indicando, possivelmente, morte por causas naturais, como um infarto causado por conta do que ocorria no momento da morte. O delegado afirmou que o laudo da perícia do corpo deve estar pronto em dez dias.

O corpo do tenente-coronel reformado foi enterrado na tarde deste sábado (26) no Cemitério municipal de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. O sepultamento foi acompanhado por cerca de 40 pessoas, que cantavam músicas religiosas.

Foto:Antonio Scorza

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