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Marine Le Pen vai a Bruxelas em busca de aliados

Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, partido da extrema-direita francesa,desembarcou em Bruxelas para articular seu grupo no Parlamento Europeu.

Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, partido da extrema-direita francesa,desembarcou em Bruxelas para articular seu grupo no Parlamento Europeu|REUTERS/Philippe Wojazer

Marine Le Pen, presidente do partido francês de extrema-direita Frente Nacional (FN), está em Bruxelas nesta quarta-feira (28) para encontrar aliados. Entre eles, eurocético britânico Nigel Farage, que também luta para formar um grupo sólido no seio do Parlamento Europeu.

As regras do Parlamento instituem que para se constituir um grupo político são necessários, no mínimo, 25 deputados de sete países.

Articulações

Com 24 deputados eleitos na votação do último domingo (25), o FN preenche um dos critérios praticamente sozinho. O desafio agora é conquistar aliados de outras seis nacionalidades. O partido neonazista grego Aurora Dourada demonstrou interesse em uma aliança com o FN, mas Marine Le Pen descartou, assim como o Jobbik húngaro e o NPD (neonazista) alemão.

O Ukip britânico e o partido antieuro alemão AFD excluíram qualquer aliança com a família Le Pen. O líder do Ukip, Nigel Farage, disse não gostar do “antissemitismo inscrito no DNA da Frente Nacional”.

Para o FN, restam aliados históricos como o partido belga Vlaams Belang, o holandês PVV, o austríaco FPO e a Liga Norte italiana. Marine Le Pen também contatou os Democratas Suecos.

Após resultados da extrema-direita, premiê francês destaca queda de impostos

O premiê francês, Manuel Valls, deixa o Palácio do Eliseu após reunião com o presidente François Hollande, nesta segunda-feira, 26 de maio.

O premiê francês, Manuel Valls, deixa o Palácio do Eliseu após reunião com o presidente François Hollande, nesta segunda-feira, 26 de maio.

REUTERS/Philippe Wojazer|RFI

No dia seguinte à vitória histórica na França do partido de extrema direita Frente Nacional nas eleições europeias, o governo socialista reafirmou nesta segunda-feira (26) a disposição de baixar os impostos, principalmente para as famílias de baixa renda. A chanceler alemã, Angela Merkel, defendeu o aumento da competitividade na Europa como uma resposta ao recado das urnas.

O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, excluiu a possibilidade de demissão do governo ou dissolução da Assembleia, após o Frente Nacional ter chegado em primeiro lugar nas eleições para o Parlamento europeu, com 24,9% dos votos no país. O premiê pediu “mais tempo” para o governo implementar reformas para aquecer a economia. Analistas indicam que os efeitos sociais da crise e as medidas de austeridade adotadas para ajustar as contas públicas foram uma das principais razões para explicar o aumento do eleitorado de extrema-direita.

Valls defendeu “novas reduções dos impostos” em 2015, em referência aos anúncios feitos no início do mês para diminuir o peso da austeridade econômica sobre as famílias de baixa renda. “A alta tributação pesa demais nas camadas populares e nas classes médias”, afirmou.

O principal partido de oposição, o UMP, obteve 20,8% dos votos e o Partido Socialista, do presidente François Hollande, teve apenas 13,98%, o pior resultado em uma eleição europeia. “Não vamos baixar a guarda, negar as nossas responsabilidades e abrir espaço para a extrema-direita”, afirmou o primeiro-ministro, em uma entrevista à rádio RTL.

Valls também julgou “preocupantes” os índices de abstenção na eleição, “principalmente dos socialistas”. Ele admitiu que a Europa deve se “reorientar” depois da votação de domingo, que tornou os conservadores do Partido Popular Europeu (PPE) a maioria no Parlamento, em Estrasburgo. “Estou convencido de que o lugar da França é na Europa, e que a Europa pode ser reorientada para apoiar ainda mais o crescimento e o emprego, algo que ela não faz há anos”, declarou.

Merkel pede competitividade

Em apoio ao governo francês, a chanceler alemã, Angela Merkel, parabenizou Paris por ter iniciado reformas e disse que “uma política de mais competitividade, crescimento e emprego é a melhor resposta” à subida dos partidos extremistas. “Isso também vale para a França”, destacou a chanceler. Para Merkel, o aumento do apoio a partidos eurocéticos e nacionalistas “é lamentável”.

Na Alemanha, os conservadores do CDU/CSU foram os vencedores do pleito, oito pontos à frente dos social-democratas do SPD. Merkel participou ativamente da campanha eleitoral em favor do ex-presidente do Banco Central Europeu Jean-Claude Juncker, representante do PPE, para a presidência da Comissão Europeia. 
 

Extrema-direita francesa vence eleição para o Parlamento Europeu

A presidente da Frente Nacional, Marine Le Pen.

A presidente da Frente Nacional, Marine Le Pen|REUTERS/Benoit Tessier

Vinte e um países da União Europeia votaram hoje na última etapa das eleições para renovar o Parlamento Europeu. Na França, a extrema-direita de Marine Le Pen venceu o pleito, tornando-se a primeira força política do país, à frente do partido conservador UMP, do ex-presidente Nicolas Sarkozy, e do Partido Socialista, do presidente François Hollande, segundo pesquisa de boca de urna do instituto Ipsos. Nos outros países do bloco, como previam as pesquisas, os partidos “eurocéticos” e extremistas tiveram boa votação.

Na França, o partido de extrema-direita Frente Nacional, de Marine e Jean-Marie Le Pen, conquistaram uma vitória histórica com 25% dos votos, segundo a pesquisa do Ifop. O partido conservador UMP ficou em segundo lugar (20%), o Partido Socialista, do presidente François Hollande, em terceiro (14%), à frente dos centristas do Modem (10%), dos Verdes (9%) e da Frente de Esquerda (6%). O nível de abstenção foi de 57%.

A França envia 74 deputados ao Parlamento Europeu. A Frente Nacional, partido nacionalista e xenófobo, que prega a saída da França da União Europeia, pode eleger 20 eurodeputados, contra três atualmente.

Aos 85 anos e eleito para um sétimo mandato no Parlamento Europeu, Jean-Marie Le Pen, assim como sua filha Marine Le Pen, que hoje dirige o FN, pediram ao presidente François Hollande, que amarga a segunda derrota em dois meses, a dissolução da Assembleia Nacional.

Reações

O presidente François Hollande declarou que será preciso “tirar lições” desse resultado. Hollande convocou o primeiro-ministro Manuel Valls e vários ministros para uma reunião na manhã desta segunda-feira. Assessores palacianos disseram que este resultado “não corresponde ao papel da França, à sua imagem, à sua ambição”.

Para o partido conservador UMP, a lição das urnas também é dura. O secretário-geral Jean-François Copé assume “parte” do fracasso”, enquanto caciques do partido como o ex-primeiro-ministro Alain Juppé e o deputado Bruno Le Maire defendem mudanças e uma orientação “mais transparente” da legenda.

Ouvido pela RFI, o cientista político Gaspard Estrada, do Instituto de Estudos Políticos de Paris (SciencesPo) afirmou que “esse resultado mostra que os franceses não estão contentes com o processo de construção da União Europeia, consideram que ela afeta os interesses da França, e decidiram mandar para o Parlamento deputados que são contra essa linha de integração”.

“Hoje em dia, o Parlamento Europeu tem poderes fortes, então é um paradoxo os franceses enviarem ao Parlamento deputados que estão contra a Europa”. O analista estima que o crescimento dos partidos eurocéticos e extremistas deve ser interpretado como um “sinal forte” pelas elites europeias.

Euroceticismo cresce no bloco

As pesquisas previam um crescimento dos partidos antieuropeus, de extrema-direita, neonazistas e eurocéticos no próximo Parlamento Europeu e essa tendência se confirma.

Na Grécia, o Syrisa, partido radical de esquerda, chegou em primeiro lugar, à frente do conservador Nova Democracia, o partido no governo, e em terceiro ficou o neonazista Aurora Dourada, que pode levar pelo menos dois deputados a Estrasburgo.

Na Alemanha, o conservador CDU, de Angela Merkel, venceu a eleição, mas o novo partido AFD, que defende o fim da zona do euro, teve cerca de 7% dos votos. Pela primeira vez, o partido neonazista alemão NPD deve ter um representante no Parlamento Europeu.

Mesma tendência eurocética no Reino Unido, onde o partido independentista britânico Ukip é dado como vencedor da eleição. Na Dinamarca, o Partido do Povo Dinamarquês, anti-imigração, também lidera as pesquisas de boca de urna.

Os resultados oficiais serão divulgados às 23h, no horário local, 19h em Brasília, quando a votação terminar na Itália.

Saiba o que faz e quanto ganha um eurodeputado

A socialista portuguesa Ana Gomes, candidata à reeleição, participa ativamente dos debates de política externa, segurança, defesa e direitos humanos.

A socialista portuguesa Ana Gomes (foto), candidata à reeleição, participa ativamente dos debates de política externa, segurança, defesa e direitos humanos|Wikipédia|Adriana Moysés

O Parlamento Europeu é o único órgão, entre as quatro instâncias de representação política da União Europeia, eleito diretamente pelos cidadãos do bloco. Os eurodeputados exercem três poderes fundamentais: participam da elaboração das leis (diretivas e regulamentações) aplicáveis no conjunto dos países membros, votam o orçamento do bloco, além de exercer um poder de censura nas ações da Comissão Europeia e do Conselho de Ministros dos governos.

Desde a adesão da Croácia, em 2013, o Parlamento Europeu conta com 766 deputados, mas o número de cadeiras será reduzido na próxima legislatura para 751 parlamentares, adaptando-se às mudanças introduzidas pelo Tratado de Lisboa (2007), que rege o funcionamento da União Europeia.

Repartição proporcional

A repartição das cadeiras é proporcional à população dos países, ou seja, os mais populosos são numericamente melhor representados. Alemanha, França, Reino Unido e Itália, que possuem o maior número de habitantes do bloco, vão eleger respectivamente 96, 74, 73 e 73 deputados. Estônia, Chipre, Luxemburgo e Malta terão as menores bancadas, de seis membros cada um.

Salário e assessores

Um eurodeputado ganha um salário mensal bruto de 7.956,87 euros, cerca de 24 mil reais. Como a maior parte de suas atividades acontece longe do país de origem, as despesas com viagens e transporte são reembolsadas perante apresentação de recibos. Além disso, um eurodeputado recebe 304 euros de diária, cerca de 920 reais, cada vez que comparece a uma sessão parlamentar.

Cada eurodeputado tem a libertade de recrutar seus assessores e fixar os salários, desde que respeite o teto global de 21.209 euros por mês, cerca de 64 mil reais.

Parlamento tem sedes em três países

Por razões históricas, o Parlamento Europeu tem três sedes. A sede principal fica em Estrasburgo, no leste da França, onde acontece a maioria das sessões plenárias. As comissões parlamentares se reúnem em Bruxelas (Bélgica) e a secretaria parlamentar fica em Luxemburgo. Essa estrutura conta com 7 mil funcionários permanentes e temporários, incluindo 430 intérpretes e 700 tradutores.

Em 2013, o orçamento do Parlamento Europeu foi de 1,75 bilhão de euros, pouco mais de 5,3 bilhões de reais. Um estudo recente demonstrou que se todas as atividades dos eurodeputados fossem unificadas em Bruxelas, haveria uma economia de 103 milhões de euros por ano, cerca de 320 milhões de reais. O próximo Parlamento poderá rever esse funcionamento oneroso para os contribuintes.

Projetos controlam até volume de água nas descargas

O Parlamento Europeu funciona por comissões que elaboram leis e relatórios sobre os mais variados temas, como governança econômica do bloco, livre circulação dos trabalhadores, segurança, defesa, serviços, agricultura, pesca, saúde pública, educação, pesquisa, vistos, asilo, imigração, justiça, segurança energética, transportes, meio ambiente, cultura e direitos humanos.

Da mesma forma que os eurodeputados examinam legislações complexas, como por exemplo a Política Agrícola Comum (PAC) ou as regras de gestão do euro adotadas pelo Banco Central Europeu, o Parlamento é alvo de críticas por excessos de regulamentação e intromissão nos hábitos dos cidadãos.

Um projeto de lei aprovado no ano passado virou motivo de piada na imprensa. Os eurodeputados adotaram uma norma uniformizando o volume de água das descargas dos banheiros em todos os países do bloco. O objetivo é reduzir o consumo de água, um motivo louvável, mas o projeto consumiu três anos de estudos e custou 89 mil euros à Comissão Europeia.

A pesquisa concluiu que a Alemanha é o país com o maior número de privadas e mictórios do bloco (77 milhões), enquanto a França onde as pessoas mais dividem os banheiros. O Reino Unido é o campeão do desperdício: com reservatórios de 9 litros, contra uma média de 6 litros nos demais países do bloco, cada vez que um inglês puxa a descarga ele desperdiça 30% de água.

Candidatos à presidência da Comissão Europeia travam debate morno

Candidatos aguardam começo do debate no Parlamento Europeu, em Bruxelas.

Candidatos aguardam começo do debate no Parlamento Europeu, em Bruxelas|Adriana Moysés|Adriana Moysés

Os cinco candidatos à presidência da Comissão Europeia participaram na noite desta quinta-feira (15) de um debate na TV, transmitido ao vivo para 30 países e 415 milhões de telespectadores, da sede do Parlamento Europeu, em Bruxelas. Junto com a jovem alemã Franziska Keller, 32 anos, do Partido Verde, que defendeu “uma Europa mais solidária, democrática e do povo”, o candidato liberal Guy Verhofstadt, 61 anos, ex-premiê da Bélgica, foi um dos mais aplaudidos pela plateia.

Guy Verhofstadt disse que a Europa está numa encruzilhada: ou os membros do bloco voltam ao Estado-nação, proposta defendida pelos partidos “eurocéticos” e de extrema-direita, ou avançam para uma Europa mais integrada. “Combater os problemas de desemprego e meio ambiente exige um bloco forte, capaz de enfrentar a China, a Índia e os Estados Unidos”, disse o político liberal logo no primeiro minuto de sua intervenção.

Mais tarde, Verhofstadt voltou a atacar os “eurocéticos”, ao afirmar que eles defendem ideias que vão contra o interesse dos cidadãos. “Sair do euro e voltar às moedas nacionais seria um desastre para a poupança”, explicou ele.

O debate durou uma hora e meia, com um formato dinâmico, em que cada participante tinha 1 minuto para defender seu programa diante de temas amplos, como economia, desemprego, imigração, relações exteriores e movimentos separatistas na Europa.

O presidente da Comissão Europeia será eleito em meados de julho pelo novo Parlamento Europeu, resultante da eleição de 25 de maio, para substituir o atual detentor do cargo, José Manuel Durão Barroso.

Contra a austeridade

O grego Alexis Tsipras, 39 anos, da esquerda radical, pediu o fim das políticas de austeridade, classificadas de “um desastre” para o continente, enquanto o socialista alemão Martin Schultz, 58 anos, atual presidente do Parlamento Europeu, defendeu uma Europa mais justa, na qual “os contribuintes não tenham de pagar pelos especuladores”.

Tsipras insistiu que “com austeridade não dá para resolver o desemprego”, principalmente dos jovens. “Salvaram os bancos e sacrificaram a população”, reclamou o grego. Os candidatos de esquerda também defenderam iniciativas mais incisivas de combate à fraude e à evasão fiscal.

Vaias

O candidato conservador Jean-Claude Juncker, 59 anos, foi o único vaiado. Primeiro, quando defendeu a continuidade da política de controle das contas públicas nos países endividados, “para criar condições propícias ao crescimento e à criação de empregos”. Depois, quando disse que “trabalhou dia e noite para a Grécia ficar na zona do euro”.

Ex-presidente do Eurogrupo, Juncker defendeu várias vezes o tratado de livre comércio em negociação entre a União Europeia e os Estados Unidos. Num dos poucos bons momentos de confronto, a alemã Franziska Keller rebateu Juncker. “É por causa desse tipo de negociação, sem a menor transparência, que os europeus perderam a confiança na Europa”, declarou a candidata dos verdes.

O grego Tsipras também buscou confronto com o liberal Verhofstadt, enquanto o ex-premiê belga fez piadinhas camaradas sobre o socialista Schultz.

Consenso

Em vários momentos do debate houve consenso. Todos defenderam uma política de imigração mais responsável e voluntarista da União Europeia, com regras para asilo político acessível e maior solidariedade entre os países que enfrentam a chegada maciça de imigrantes. Também houve consenso na agenda econômica. A Europa do futuro deverá ser construída com investimentos na indústria digital e no setor de energias renováveis.

Bloco é confrontado à impotência na crise ucraniana

Sobre a crise na Ucrânia, os cinco candidatos defenderam uma solução pacífica do conflito, porém com sanções reforçadas contra a Rússia. “A União Europeia não é uma potência militar, precisa de uma estratégia para evitar o confronto militar”, admitiu o socialista Schultz.

O belga Verhofstadt insistiu num posicionamento mais forte do bloco, senão “Vladimir Putin e outros ditadores vão ver que a impunidade funciona”.

Tsipras foi o único a colocar em dúvida a legitimidade do governo interino ucraniano, ao comentar que a diplomacia europeia “não pode aceitar o crescimento do neonazismo no poder na Ucrânia”.