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Novo governo britânico é mais jovem, feminino e eurocético

O britânico Philip Hammond, que era ministro da Defesa, foi promovido nesta terça-feira (15) ao cargo de ministro das Relações Exteriores do Reino Unido.

O britânico Philip Hammond, que era ministro da Defesa, foi promovido nesta terça-feira (15) ao cargo de ministro das Relações Exteriores do Reino Unido.

REUTERS/Suzanne Plunkett
RFI

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, surpreendeu ao anunciar nesta terça-feira (15) modificações muito mais profundas do que as esperadas em sua equipe de governo, que agora é mais jovem, mais feminina e mais eurocética. O sinal mais forte dessa última característica é a ascensão de Philip Hammond, que passou do ministério da Defesa ao ministério das Relações Exteriores.

 

Philip Hammond, de 58 anos, obteve notoriedade no início do ano ao preconizar a saída do Reino Unido da União Europeia se as instituições de Bruxelas não se reformarem e não modificarem seus laços com Londres.

O remanejamento visa preparar o governo de coalizão dos conservadores e liberal-democratas para as eleições gerais que acontecem daqui a dez meses. Com 38% das intenções de voto, o partido trabalhista de oposição está na frente dos conservadores, que têm 33%, segundo o último levantamento, divulgado no domingo.

Mas o grande motor dessa mudança foi o fato do eleitorado conservador ter votado em massa para o UK Independent Party (UKIP). O partido eurofóbico e anti-imigração foi o vencedor das eleições europeias em maio e fica em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, na frente do partido liberal-democrata.
Apesar disso, o chefe dos liberal-democratas, Nick Clegg, continua no cargo de vice-primeiro-ministro.

“Massacre dos moderados”

O fato mais marcante foi a surpreendente partida do ministro das Relações Exteriores, William Hague, um político proeminente do partido conservador, do qual foi presidente de 1997 a 2001.

Ele ainda vai permanecer alguns meses no governo como líder da câmara dos Comuns (a câmara baixa do Parlamento), a fim de preparar as eleições legislativas de maio de 2015. No entanto, ele especificou que não vai se candidatar a um novo mandato de deputado.

Um porta-voz trabalhista, Michael Dugher, falou em “uma massacre dos moderados” por um primeiro-ministro “enfraquecido” e “amedrontado diante de sua ala direita”. “A política externa britânica será agora dirigida por um homem que falou abertamente sobre nossa saída da União Europeia”, declarou ele.

Governo mais jovem e feminino

A saída de Kenneth Clarke, ministro sem pasta de 74 anos, ilustra a vontade de rejuvenescer o governo. Ele também era conhecido por ser favorável à União Europeia.

Owen Paterson, ministro do Meio Ambiente, David Willets, secretário de Estado para as Universidades, David Jones, ministro do País de Gales, Andrew Robathan, ministro da Irlanda do Norte, e Greg Barker, secretário de Estado para as mudanças climáticas, também figuram entre os 12 homens que vão deixar o governo.

Com isso, eles abrem espaço para uma presença feminina mais forte. O nome mais proeminente entre as mulheres que entram no governo é Nicky Morgan, de 41 anos. Ela assume a pasta da Educação, que vai acumular com suas antiga função de secretária de Estado para as Mulheres e a Igualdade. Elizabeth Truss, a mais jovem integrante da equipe, com 38 anos, se tornou secretária de Estado para o Meio Ambiente.

Radicalização à direita

A promoção de Philip Hammond marca uma radicalização em um momento particularmente crítico para a relação de Londres com a União Europeia.

David Cameron, que perdeu sua batalha para impedir a nomeação de Jean-Claude Jucker à presidência do Conselho Europeu, iniciou uma outra cruzada de resultado incerto. Eles prometeu aos britânicos obter reformas do bloco e de seus laços com a União Europeia, antes de convocar um referendo em 2017 sobre a manutenção – ou não – do Reino Unido no clube dos 28.

Jovens franceses protestam contra ascensão da extrema-direita

Manifestação contra a Frente Nacional, partido de extrema-direita, tomou conta da Praça da Bastilha, em Paris, nesta quinta-feira, 29 de maio de 2014.

Manifestação contra a Frente Nacional, partido de extrema-direita, tomou conta da Praça da Bastilha, em Paris, nesta quinta-feira, 29 de maio de 2014|Lucia Müzell|Lúcia Müzell

A quinta-feira foi feriado de Ascensão na França, mas ao invés de se divertir, milhares de jovens preferiram ir às ruas em várias cidades para protestar contra o partido de extrema-direita Frente Nacional. No domingo, nas eleições legislativas europeias, a legenda da líder Marine Le Pen saiu vitoriosa no país, com 25% dos votos.

A bancada da Frente Nacional passou de três para 24 deputados no Parlamento europeu – um resultado inaceitável, na opinião de 3 mil jovens que manifestaram em Paris, como Sarah, de 16 anos. “Na escola, nós estudamos muito o que aconteceu no passado. Não consigo compreender que isso esteja se repetindo e as pessoas votem nesse partido”, disse. “O principal é que somos contra o Frente Nacional. Eu não sou exatamente de esquerda, mas nenhum de nós quer que o Frente Nacional chegue ao poder”, afirmou Corentin, de 17. “Está começando pelas eleições municipais, agora as europeias, e pode acabar na presidência. Os eleitores que não foram votar são os que não votam FN. Se mais gente tivesse ido votar, é óbvio que o partido não teria tido essa vitória”, avalia o estudante.

Os jovens reunidos na praça da Bastilha, mas também em metrópoles como Lyon, Bordeaux, Marselha, Estrasburgo e Nantes, estavam indignados com o fato de que a Frente Nacional foi o partido mais votado pelos menores de 35 anos – 30% votaram por um candidato frentista, contra 15% para cada um dos principais partidos da França (Partido Socialista e União por um Movimento Democrático).

David, 18 anos, acha que essa escolha ocorreu pela falta de informação sobre a importância da União Europeia. “O resultado das eleições é inadmissível e não podemos aceitar isso, principalmente nós, os jovens. A França é o país dos direitos humanos e a extrema-direita não nos representa”, protestou. “A Frente Nacional é um partido fascista. É algo que nós lamentamos muito e nos dói muito, e é por isso que estamos aqui hoje.”

A estudante Brune, 17 anos, também não suporta o fato de o país ser associado a uma população xenófoba no exterior. “Eu acho que apesar dos 25% do Frente Nacional, não somos todos racistas e xenófobos. Me incomoda que estejam pensando isso da gente”, destaca.

Mudança de discurso

A defesa dos interesses franceses a qualquer custo é a principal arma do partido Frente Nacional para conseguir cada vez mais adeptos, na opinião do pesquisador Riccardo Marchi, especialista na história da extrema-direita. O professor da Universidade de Lisboa avalia que o discurso dos líderes tradicionais durante a crise – que não hesitavam em colocar a culpa dos problemas econômicos no bloco europeu – teve o efeito colateral de levar os eleitores para os extremos. O Frente Nacional ou o Ukip, na Inglaterra, são abertamente contrários à União Europeia.

Para Marchi, a conquista do eleitorado pela extrema-direita ainda vai aumentar. “Quando a Marine Le Pen faz um discurso contrário ao islã, ela o faz através da defesa dos valores do republicanismo francês. É por isso que ela consegue ter mais incidência no eleitorado francês e conquistar eleitores da direita tradicional francesa”, observa. “Ao defender os valores da França republicana e laica, ela defende a mulher contra o integralismo islâmico, por exemplo. Ou defende a democracia contra eventuais tendências autoritárias que supostamente haveriam no islamismo.”

Dificuldades para se unir

Apesar do aumento visível da força da extrema-direita na Europa – em países como o Reino Unido, a Dinamarca, Holanda ou Áustria -, Marchi acha que os novos deputados eurocéticos não conseguirão formar um grupo parlamentar em Estrasburgo. O Ukip britânico não cogita se unir à Frente Nacional, que descarta se aproximar com os neonazistas gregos e húngaros.

“Há tremendas divisões entre esses partidos. Possivelmente, teremos três posições: um grupo formado por alguns partidos em torno do Ukip, um segundo em volta de Marine Le Pen, e uma série de deputados que não se inscreverão a nenhum grupo”, explica.

No total, 129 deputados eurocéticos, a maioria de partidos de extrema-direita, conquistaram uma cadeira no Parlamento, que tem 751 membros.