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Com mais de 600 pessoas mortas, Israel rechaça “trégua humanitária”

Correio do Brasil, com Vermelho – de Jerusalém

22/7/2014 

Paramédicos palestinos removem corpos de vítimas fatais do bombardeio israelense contra o bairro de Shuja'iya, na Cidade de Gaza

O exército israelense decidiu admitir as mortes de 28 soldados em confrontos com a resistência na Faixa de Gaza invadida, enquanto o número de vítimas fatais palestinas ultrapassa o de 600 pessoas. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, reuniram-se na segunda-feira, mas a proposta de um “cessar-fogo humanitário” que elaboraram foi rejeitada por Israel: a pausa na ofensiva “beneficiaria o Hamas”.

O número de mortes entre os palestinos, vítimas dos bombardeios e da ofensiva terrestre de Israel, ultrapassa o de 600 pessoas em 13 dias, enquanto confrontos em terra também resultaram em 28 mortes entre os soldados israelenses, segundo o confirmado pelo exército. Israel rechaçou a proposta de Ban Ki-moon para mais uma “trégua humanitária” que permitisse o envio de assistência emergencial ao território palestino sitiado há sete anos e bombardeado há duas semanas, ofensiva ainda apenas “condenada” pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Inúmeros dos “alvos” dos ataques israelenses são hospitais, escolas, centros de saúde e centenas de lares, o que agrava ainda mais a crise humanitária vivida pelos palestinos de Gaza. Cerca de 60 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas casas e estão alojadas em escolas da Agência das Nações Unidas de Assistência e Trabalhos para os refugiados palestinos (UNRWA), que tampouco escapam da ofensiva.

Entretanto, em sua página oficial, o exército, ou “Forças de Defesa de Israel”, usam estratégias como a de caracterizar o bairro de Shuja’iya, na Cidade de Gaza, como a “fortaleza de terror do Hamas”, após a reação assombrada pelas mais de 60 de mortes entre civis palestinos – inclusive 17 crianças e vários membros de uma mesma família – nos bombardeios aéreos e terrestres lançados pelas forças israelenses no domingo, contra aquele bairro.

“Cessar-fogo humanitário” 

O secretário-geral da ONU insiste em “urgir as partes a cessarem hostilidades”, ignorando o apelo mundial por condenação à ofensiva insraelense contra os palestinos e pela responsabilização por crimes de guerra extensivamente denunciados. Ele deve chegar a Israel ainda nesta terça-feira, enquanto Kerry reúne-se com representantes da Liga Árabe na capital egípcia. De acordo com o jornal israelense Haaretz, Ban pretende conversar com o ministro de Defesa Moshe Ya’alon e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que ordenaram a ofensiva em 8 de julho e a invasão terrestre na quinta-feira.

Depois disso, o representante da ONU deve reunir-se com o presidente palestino Mahmoud Abbas, em Ramallah, sede administrativa do governo na Cisjordânia. Já nesta quarta-feira, ele volta a Israel para encontrar o chanceler Avigdor Lieberman, agressivo defensor da retomada do controle completo da Faixa de Gaza por Israel, as colônias e postos de controle foram retirados do interior do território em 2005, mas o bloqueio completo foi imposto pouco depois – e com a ministra da Justiça Tzipi Livni, que liderou a delegação israelense em mais um período infrutífero de negociações com os palestinos, entre julho de 2013 e abril deste ano, além do líder da oposição, Isaac Herzog.

Em sua reunião com John Kerry, no Cairo, Ban e o enviado especial para o Oriente Médio, Robert Serry, tentaram estabelecer um “cessar-fogo humanitário”, mas um oficial israelense citado pelo Haaretz disse que a proposta “foi examinada de acordo com a situação das tropas no terreno” e a conclusão foi a de que “o cessar-fogo de cinco horas”, como sugerido por Ban, “ajudaria o esforço de combate do Hamas”. Por isso, o major-general Yoav Mordechai, coordenador das “Atividades do Governo nos Territórios” rejeitou a proposta.

Segundo o Haaretz, Ban e Kerry fizeram menções ao quadro geral da ocupação israelense e sobre a insustentabilidade de um eventual “acordo de cessar-fogo” que não incluísse mudanças neste sentido. Embora as autoridades israelenses continuem alegando que o Hamas, partido à frente do governo de Gaza, não está interessado em um “cessar-fogo”, a avaliação tímida de Ban e Kerry é exatamente o ponto de partida para as reivindicações do Hamas por uma mudança na situação do território sitiado.

Israel já rejeitou as premissas estabelecidas pelos palestinos e seus oficiais disseram “não ver um cessar-fogo acontecendo pelos próximos vários dias”, ainda que o número de mortes civis entre os palestinos já seja contado às centenas, com cerca de 120 crianças entre elas, de acordo com a lista de nomes divulgada ainda na manhã de segunda-feira pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Veja aqui a lista publicada pelo Portal Vermelho.

Ataques aéreos israelenses deixam mais 7 mortos em GazaSSIONISMO, HOLOCAUSTO NPALESTINO,

Sete palestinos morreram nesta terça-feira em novos ataques aéreos israelenses no sul da Faixa de Gaza, anunciou o porta-voz dos serviços de emergência, Ashraf al-Qudra.

Desde o início da ofensiva israelense em Gaza, no dia 8 de julho, 583 palestinos morreram e outros 3.640 ficaram feridos.

As sete pessoas morreram em uma série de bombardeios no sul e no centro da Faixa e entre as vítimas havia membros de uma mesma família, que faleceram em um ataque em Deir el-Balah (sul). Outra pessoa morreu em um ataque aéreo em Khan Yunes e a sétima vítima em um bombardeio no campo de Nuseirat (centro).

Fonte: Terra 

Treze soldados israelenses mortos em operação em Gaza


Pequenas baixas em relação à centenas de civis palestinos trucidados

AFP – Agence France-Presse

20/07/2014

Treze soldados israelenses da Brigada Golani foram mortos na madrugada de sábado para domingo na Faixa de Gaza, onde o exército israelense realiza uma ofensiva, elevando a 18 o número de mortos entre o Exército.

“Treze soldados da Brigada Golani foram mortos durante a noite em Gaza combatendo os terroristas do Hamas”, informou um porta-voz do Exército em seu Twitter.

O Exército já havia anunciado a morte de cinco soldados desde quinta-feira, início da ofensiva terrestre no enclave palestino, elevando a 18 o número de mortos nas forças israelenses.

Nenhum detalhe foi dado sobre as circunstâncias da morte dos treze soldados, e “o trabalho de identificação” das vítimas ainda está em andamento.

Erdogan apresenta condolências pelo massacre de arménios ocorrido entre 1915 e 1917

por LusaHoje

 
Primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan
Primeiro-ministro turco Recep Tayyip ErdoganFotografia © Reuters

O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, apresentou hoje as condolências da Turquia “aos netos dos arménios mortos em 1915”, numa referência às deportações e massacres desta comunidade cometidos pelo império otomano em plena I Guerra Mundial.

Num comunicado emitido na véspera do 99.º aniversário do início das deportações, o chefe do Governo turco aborda abertamente e pela primeira vez estes acontecimentos ocorridos entre 1915 e 1917, na fase final do império otomano, e reconhecidos como um genocídio por numerosos países.

Pelo contrário, e desde a sua fundação em 1923, a Turquia republicana nunca reconheceu o genocídio arménio.

“É um dever humano compreender e partilhar a vontade dos arménios em comemorar os seus sofrimentos durante essa época”, refere o texto, citado pela agência noticiosa AFP.

“Desejamos que os arménios que perderam a vida no contexto do início do século XX repousem em paz e exprimimos as nossas condolências aos seus netos”, acrescenta a missiva. Na sua mensagem sobre os acontecimentos de 1915, Erdogan também considera “inadmissível” que os acontecimentos de 1915 sejam utilizados como um “pretexto” para hostilizar a Turquia, ou que a questão seja aproveitada para promover o “conflito político”.

“No mundo de hoje, promover a inimizade através da história e criar novos antagonismos não é aceitável nem útil para a construção de um futuro comum”, sublinha o líder turco, que também recorda a necessidade do diálogo “apesar das diferenças”, de compromisso e de promoção do “respeito e tolerância”.

Neste contexto, recorda que a Turquia “apelou para o estabelecimento de uma comissão história conjunta para estudar os acontecimentos de 1915 na perspetiva de uma abordagem académica”.

“Este apelo permanece válido. As investigações, que deverão ser efetuadas por historiadores turcos, arménios e internacionais desempenharão um significativo papel no esclarecimento dos acontecimentos de 1915 e de um correto conhecimento da história”, refere.

O dia 24 de abril de 1915 assinala o início das perseguições à população arménia que há séculos vivia sob domínio otomano, no que é descrito como o primeiro genocídio do século XX. Centenas de milhares de arménios foram na ocasião deportados e a maioria dos seus bens confiscados.

Enquanto as autoridades da Arménia e diversos historiadores se referem a cerca de 1,5 milhões de mortos no decurso das perseguições e deportações, a Turquia argumenta que cerca de 500.000 arménios morreram de fome ou em combates durante o conflito mundial, continuando a rejeitar o termo genocídio.

Rebeldes sul-sudaneses negam massacre de civis e acusam exército

AFP – Agence France-Presse

22/04/2014 

Os rebeldes sul-sudaneses liderados pelo ex-vice-presidente Riek Machar negaram nesta terça-feira ter massacrado centenas de civis em Bentiu (norte) e acusaram deste crime as tropas governamentais e seus aliados, contra os quais lutam desde dezembro.

A ONU acusou na segunda-feira as tropas leais a Machar pela morte de centenas de civis quando tomaram do exército governamental o controle de Bentiu. Segundo a Missão da ONU no Sudão do Sul (Minuss), os massacres começaram no dia 15 de abril.

A rebelião respondeu nesta terça-feira denunciando acusações sem fundamento e “alegações ridículas elaboradas por (seus) inimigos”, ao mesmo tempo em que acusou as forças pró-governamentais de serem “inteiramente responsáveis pelas mortes sistemáticas de civis sul-sudaneses e estrangeiros em Bentiu” e de terem “cometido crimes odiosos ao se retirar”.

No dia 15 de abril, as forças pró-Mashar anunciaram que haviam terminado com “as operações de limpeza” e assegurado Bentiu, capital do estado petroleiro de Unidade (norte), e seus arredores.

No mesmo dia, segundo a ONU, massacraram mais de 200 civis refugiados em uma mesquita, depois de selecioná-los por etnias, e mataram mais civis em uma igreja católica.

Em um hospital da cidade mataram também outros civis, incluindo pessoas da etnia dos nuergs – a mesma à qual Mashar pertence e que forma a maior parte de suas tropas – por não celebrarem a entrada na cidade das forças do líder rebelde.

Também foram assassinados moradores de Darfur, região atingida pela rebelião contra Cartum, acusados pelos insurgentes do Sudão do Sul de ajudar o exército sul-sudanês.

Ao conflito no Sudão do Sul, que começou com uma disputa interna entre Kiir e Mashar, se somaram velhas disputas étnicas entre os povos dinka de Kiir e nuer de Mashar, que remontam à guerra civil sudanesa contra Cartum (1983-2005) que levou à independência do Sudão do Sul em julho de 2011.

Os combates, que deixaram milhares de mortos desde a explosão do conflito, no dia 15 de dezembro, são acompanhados frequentemente por massacres de caráter étnico.

VÍDEO: 19 DE ABRIL, DIA DO ÍNDIO, UM DIA INSTITUCIONAL

Sou a justiça e a luta, sou o anúncio e a denúncia, Sou a informação e a transformação, Sou a união e a resistência”

ImagemQuando os portugueses pisaram no chão Brasileiro encontraram uma população de aproximadamente seis milhões de indígenas que habitavam nosso paísDesde então, os povos indígenas foram perseguidos, agredidos, doutrinados, desrespeitados, massacrados e muitos exterminados, causando a diminuição da população. Foram escravizados pelos portugueses e contaminados com doenças que não conheciam, além de morrerem por maus tratos e a tiros quando tentavam fugir.

Este processo marcou a história até os dias de hoje, com os mecanismos utilizados pela política indigenista oficial, integracionista e genocida, que acarreta a destruição ecológica, o esbulho das terras e a exploração dos recursos naturais em seus territórios. Estas ações se dão através dos grandes projetos econômicos, agropecuários, mineradoras e hidroelétricas.

Para entendermos a data, devemos voltar para 1940, onde foi realizado no México, o Primeiro Congresso Indigenista Interamericano. Além de contar com a participação de diversas autoridades governamentais dos países da América, vários líderes indígenas foram convidados para participarem das reuniões e decisões. Nos primeiros dias, por razões obvias os convidados indígenas não compareceram ao evento. Estavam preocupados e temerosos, devido à história de contato que deixou marca que jamais se apagará da história como foram perseguidos, agredidos e dizimados pelos colonizadores.

No entanto, após muito diálogo e compreensão da discussão, algumas lideranças decidiram em participar, por entender a importância do momento histórico que se vivia. Era o dia 19 de abril. Ficando assim, para o continente americano, como o Dia do Índio.  Nesse mesmo congresso foi criado o Instituto Indigenista Interamericano para zelar pelos direitos dos índios nas Américas, marcando na história a primeira participação de líderes indígenas em um grande evento. O Brasil aderiu ao Instituto somente depois da intervenção do Marechal Cândido Rondon em 1943, e através do decreto-lei 5.540 o presidente Getúlio Vargas institui o dia 19 de abril sendo o “Dia do Índio”.

Quebrando estereótipos: O “Dia do Índio”, como data cívica, esvaziou-se do sentido real de luta pela garantia de seus direitos. Distanciou-se da imagem que retrata o genocídio de vários povos, desde a conquista dos europeus. O dia 19 de abril perdeu a reflexão e o debate necessário sobre as questões enfrentadas por esses povos no Brasil. A ideologia adotada pelas formas e práticas governamentais no Brasil (imperial, republicano e mesmo o democrático) é a responsável pela distorção do que são os indígenas hoje.

Nas escolas podemos notar ainda, e com frequência, as crianças voltando para casa com os rostos pintados ou com cocar colorido feito de papel-cartão, sem levar em conta que há também alunos que são indígenas na sala de aula. O preconceito e a descriminação ainda estão muito presentes e fazem com que os estudantes indígenas omitam sua verdadeira identidade. Sem contar que alguns livros didáticos ainda trazem uma imagem utópica do “bom selvagem” ou consideram o indígena como um ser mitológico, algo distante, e com os verbos conjugados no passado. “Ainda existe índio no Brasil?” – É o que muitos ainda perguntam quando se aborda o assunto da causa indígena ou de fatos pertinentes que chamam a atenção da mídia.

Um exemplo de estereótipo solidificado se dá quando os povos indígenas são retratados como “miscigenados” ou “não-puros”. A partir do senso comum da sociedade, não se encaixam na ideia do que é ser índio. Por não possuírem, geralmente, as características fenotípicas a que a população aceita como “cara-de-índio”, estes povos indígenas, em pleno século XXI, são vítimas de preconceitos, além de tudo. É preciso considerar – fazendo justiça – o conceito histórico a que os indígenas foram submetidos pela dominação colonial, ou seja, uma miscigenação forçada para se manter vivos. A história nos mostra que as mulheres indígenas eram violentadas, estupradas, abusadas, seus maridos mortos, prática que em muitos lugares perdura até os dias atuais. As crianças que nasceram do ventre destas mulheres indígenas, fruto destas maldades, são descriminadas de forma violenta por não ter “cara-de-índio”, sendo-lhes negado o direito de sua identidade indígena.

Neste dia institucional, os povos indígenas propõem uma verdadeira discussão sobre as dificuldades enfrentadas. Entre os desafios estão: a demarcação de seus territórios tradicionais; falta de acesso a serviços públicos; vítimas de preconceitos e casos de desrespeito aos direitos humanos.

Remontando à história: No contato entre índios e portugueses, aconteceu o choque cultural de ambas as partes. As duas culturas eram muito diferentes e pertenciam a mundos completamente distintos. Quando os portugueses começam a explorar o pau-brasil das florestas brasileiras, começam concomitantemente a escravizar os povos indígenas. A Carta de Pero Vaz de Caminha (escrivão da expedição de Pedro Álvares Cabral) e também os documentos escritos pelos padres jesuítas relatam essa época. Interessados nas terras, os portugueses usaram a violência contra os índios. A transmissão de doenças dizimou povos inteiros.

Em 1875, através de um decreto imperial, o indígena deixa de existir juridicamente. Ações violentas, e tantas outras ainda que camufladas, seguiram-se por séculos, resultando numa redução drástica da população indígena.

Um pouco de estatística: Dos 80 milhões de indígenas que viviam nas Américas no ano de 1500, cerca de 70 milhões foram dizimados. No México, por exemplo, a população passou de 25 milhões para pouco mais de 1 milhão. Em solo brasileiro, neste período, a população indígena era de aproximadamente 6 milhões de pessoas. A população foi reduzida para 600 mil e em 1957 havia apenas 120 mil indígenas.

O Ministro Rangel Reis, nos anos 70, em plena ditadura militar, afirmava que os indígenas até o ano 2000 estariam integrados a sociedade brasileira. Posteriormente o cientista político Hélio Jaguaribe, secretário de Ciência e Tecnologia no governo Collor, afirmou durante uma conferência na Escola Superior de Guerra em 1992 que, no ano 2000, não haveria mais índios no Brasil, pois estariam todos extintos ou assimilados (FREIRE, 2007). Enganou-se redondamente, pois os povos indígenas sempre se mantiveram na resistência diante do poder opressor.

Felizmente a população indígena vem crescendo e se consolida diante dos seus direitos quanto às políticas públicas. Segundo o Censo do IBGE 2010, no Brasil a população indígena é de 896.917 pessoas. Dentro deste amplo mosaico que é a realidade dos povos indígenas, se somam as 305 etnias, falantes de 274 línguas diferenciadas. Estima-se que existam ainda pelo menos 77 grupos de índios isolados (livres ou sem contato) na parte brasileira da floresta amazônica.

A realidade que deve ser divulgada: Praticar rituais sagrados e falar em língua materna foi ato proibido aos indígenas até a década de 1970. Os inimigos dos povos indígenas tinham a prática de persegui-los e matá-los. Muitas vezes, em diversas regiões do Brasil, a saída foi tentar manter os rituais às escondidas. Nesse processo de perseguição por interesses aos recursos naturais em terras indígenas muitas coisa se perdeu. “O mais triste é que nós nem sabemos o que de fato ficou pelo caminho da nossa história”, lamenta Claudinha Truká, liderança do povo Truká.

Apenas com a Constituição de 1988 o Estado reconhece a existência de povos indígenas e lhes atribui direitos. Antes o índio era considerado menor de idade, uma pessoa mentalmente incapaz e que, portanto, tinha que ter a tutela do Estado. A Constituição altera esta submissão instaurada sobre os povos indígenas. Comumente ouvimos as pessoas dizerem: está surgindo índio de tudo quanto é lugar! Se no passado os povos indígenas eram condenados e tiveram que se esconder, hoje a Constituição garante este reconhecimento. São vários os “povos ressurgidos”, ou melhor dizendo, “povos resistentes”, que se mantiveram “reduzidos sim, mas não vencidos”.

E uma vez reconhecidos como povo, se faz necessária a retomada de seus territórios tradicionais. Terras dos seus antepassados, terra de onde cada povo foi originado, terra onde habita o sagrado.

O momento agora é de denúncia das violências sofridas pelas comunidades indígenas país afora. “É preciso mostrar qual é a realidade que os povos indígenas estão vivendo, sendo atacados nas suas terras por pistoleiros, tendo suas terras invadidas por latifundiários, a morosidade do Estado brasileiro e do governo na demarcação, ampliação e desintrusão de suas terras”, comenta Sassá Tupinambá.

Entre 2003 e 2011 foram registrados 503 assassinatos de indígenas no Brasil. O número corresponde a uma média de 55,8 mortes por ano. “Os direitos originários (direito ao território tradicional) e constitucionais estão seriamente ameaçados pela bancada ruralista (agronegócio). Há uma forte pressão para expulsar comunidades indígenas, ribeirinhas e quilombolas de suas terras forçando-as a migrar para as periferias das grandes cidades, deixando-as vulneráveis ao crime organizado do tráfico de pessoas e ao trabalho escravo”.

  “A gente ouve muita gente falar: por que índio precisa de tanta terra? Nós precisamos para ritual a terra sagrada onde tem os terreiros, precisa de madeira para criar a abelha, terra pra caçar bicho. O lugar onde a gente faz o ritual tem que ter uma caça perto para comer… terreiro para os índios forgar (dançar toré)”, explica Expedito, pajé Pipipan.

Trocando em miúdos: “Dia do índio” não é somente o dia 19 de abril; são os 365 dias do ano. Não podemos ver o indígena como um ser exótico, mítico, distante e embrenhado nas matas.

A própria formação do povo brasileiro é miscigenada: branco, negro e indígena. Outro fator considerável é que o valor de uma nação também se faz pela riqueza de culturas. E nesta questão o Brasil não é somente gigante pela própria natureza, mas, sobretudo, por sua diversidade cultural.

Somos um país pluriétnico e multicultural, onde cada povo (indígena) tem o direito de viver com dignidade sua cultura, língua e tradição, sendo brasileiros originários.

Que no 19 de abril, “dia do índio”, seja enfatizado que o preconceito é uma trincheira imposta para impedir o acesso aos direitos indígenas. É um dia para lembrar a história de luta e de resistência dos povos indígenas que perdura até aos dias de hoje, confirmando que o Brasil tem uma dívida histórica para com estes povos.

                          

                                                                                                                  Emília Altini e Osmar Marçoli

                                                                                                                  Cimi – Regional Rondônia