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Em entrevista, Sarkozy contra-ataca e denuncia tentativa de humilhação

O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy durante entrevista nesta quarta-feira (2).

O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy durante entrevista nesta quarta-feira (2).

TF1

Depois de ficar 15 horas em detenção provisória para interrogatório e ser indiciado por corrupção ativa, tráfico de influência e violação do segredo profissional, o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy concedeu, nesta quarta-feira (2), sua primeira entrevista desde que deixou o palácio do Eliseu, em 2012. “Nunca cometi um ato contrário aos princípios republicanos”, declarou.

 

O ex-presidente, de 59 anos, denunciou a “instrumentalização política de uma parte da Justiça” e a intenção de humilhá-lo com uma detenção provisória e uma audiência no meio da madrugada, às 2h, ao invés de uma convocação à justiça. Ele também questionou a imparcialidade de uma das juízas que o intimaram, Claire Thépaut, que fez parte do Sindicato da Magistratura, ligado à esquerda.

Sarkozy qualificou de “grotescas” as acusações do indiciamento e se declarou “profundamente chocado com o ocorrido”. Ele acrescentou que não exige nenhum privilégio. “Nunca traí a confiança” dos franceses, proclamou. “Se eu cometi erros, vou assumir todas as consequências – não sou um homem que foge de suas responsabilidades”.

Para o ex-presidente, o ocorrido na noite anterior convenceu-o da necessidade de dar a entrevista, que foi gravada durante o dia, em seu escritório, poucas horas depois de ter sido indiciado. O canal de televisão TF1 e a rádio Europe 1 transmitiram a conversa com dois jornalistas às 20h (15h em Brasília).

Tramas

Em relação ao governo do atual presidente, François Hollande, Sarkozy disse que “há coisas que estão sendo tramadas – os franceses precisam saber disso e, conscientemente e com toda a liberdade, julgar a situação”.

De acordo com os rumores, Sarkozy tinha a intenção de assumir a liderança do partido de direita UMP após as férias de verão na França e provavelmente preparar sua candidatura à presidência em 2017.

Indiciamento de Sarkozy é destaque na imprensa europeia

Capa dos jornais Aujourd'hui en France, Liberation, Le Figaro, El Pais, The Gardian, Il Corriere della Sera, La Reppublica, O Público desta terça-feira, 02 de julho de 2014

Capa dos jornais Aujourd’hui en France, Liberation, Le Figaro, El Pais, The Gardian, Il Corriere della Sera, La Reppublica, O Público desta terça-feira, 02 de julho de 2014|RFI

Os problemas do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy com a Justiça estão nas manchetes dos jornais franceses desta quarta-feira (2) e também ganharam destaque na imprensa europeia. Todos enfatizam que o indiciamento do ex-presidente pode comprometer seus planos de voltar à vida política francesa.

“Ele pode voltar?”, pergunta a manchete de Libération. Em seu editorial, o jornal progressista afirma que a série de problemas com a justiça na qual Sarkozy foi implicado nos últimos meses coloca em evidência uma prática política baseada em manipulações, arranjos, desvio das regras, “e desprezo pelas leis”.

Libération acusa o ex-presidente de ter uma “ética política duvidosa”. “Mesmo se o ex-chefe de Estado nunca fez da moral a primeira virtude de sua ação, ele não pode desprezar certos valores da nossa democracia. Se ele ainda deseja voltar à política e mesmo reconquistar o poder, Nicolas Sarkozy terá que assumir diante dos franceses o que as investigações revelaram”, conclui o diário.

“Sarkozy: a onda de choque” é a manchete de Le Figaro. Em seu editorial, o jornal conservador insinua que o ex-presidente não é tratado pela justiça como um cidadão comum. Segundo Le Figaro, a privacidade, a presunção de inocência e o direito de defesa de Sarkozy não foram respeitados. O diário lembra que, quando era presidente, Sarkozy queria suprimir a função de juiz de instrução, o que lhe valeu a inimizade da categoria.

Os dois jornais não levaram em conta o indiciamento do ex-presidente, que aconteceu somente na madrugada aqui na França. Em seu site, o jornal popular Le Parisien promove uma enquete entre seus leitores. “Você ficou chocado com o indiciamento de Sarkozy?”, é a pergunta do dia. O diário qualifica a medida de “espetacular”.

Repercussão na Europa

A notícia ganhou grande destaque em toda a imprensa europeia. O britânico The Guardianavalia que o indiciamento de Sarkozy é um grande golpe em sua esperança de voltar ao palácio do Eliseu em 2017.

O espanhol El País aponta que a velocidade dos eventos “surpreendeu todas as forças políticas” francesas, que pedem confiança na justiça. Em um artigo opinativo muito crítico contra Sarkozy, outro jornal espanhol, El Mundo, afirma que o ex-presidente foi pego em flagrante com seus próprios métodos. “Ele foi ouvido, exatamente como fazia com sua rede de espionagem sob medida”.

O português O Público lembra que esse caso provoca grande comoção porque a instituição de presidente na França “tem especial prestigío” e goza de uma forte proteção.

O jornal italiano La Reppublica explica a seus leitores que o delito de “tráfico de influência” é típico do direito francês, onde foi introduzido já no final do século 19. O conceito não faz parte da tradição italiana, que só o adotou em 2012 para se conformar a convenções internacionais da ONU e do Conselho Europeu.

“Não há dúvidas, os juízes insistem em perseguir Sarkozy”, comenta outro diário italiano, Il Corriere della Sera, mais à direita.

Indiciado por corrupção, Sarkozy vai se explicar na televisão

O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy em sua casa em Paris nesta quarta-feira (2).

O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy em sua casa em Paris nesta quarta-feira (2)|REUTERS/Gonzalo Fuentes|RFI

Indiciado na madrugada desta quarta-feira (2) por corrupção ativa e citado em outras investigações judiciárias, o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy vai conceder esta noite sua primeira entrevista desde que deixou o palácio do Eliseu, em 2012. Seus aliados dos partidos de direita afirmam que Sarkozy é injustamente perseguido pela Justiça, enquanto o governo socialista se limita a lembrar os princípios de “independência da Justiça” e “presunção de inocência”.

A entrevista de Nicolas Sarkozy será transmitida ao vivo às 20h, no horário local, pela rádio Europe 1 e pela TF1, o principal canal de televisão francês. O ex-presidente foi indiciado em meio a boatos de que estaria se preparando para voltar à política.

De acordo com os rumores, Sarkozy tinha a intenção de assumir a liderança do partido de direita UMP após as férias de verão na França e provavelmente preparar sua candidatura à presidência em 2017.

Depois de sua derrota contra o socialista François Hollande em 2012, Nicolas Sarkozy, de 59 anos, procurava nos últimos meses assumir o papel de “salvador da pátria”, aproveitando-se da queda da popularidade do atual presidente.

Mas após cerca de 15 horas detido para interrogatório – foi a primeira vez que isso aconteceu com um ex-chefe de Estado na França -, Nicolas Sarkozy foi indiciado por corrupção ativa, tráfico de influência e violação do segredo profissional, o que pode comprometer seus planos de retornar à vida pública.

Reações

O presidente da França, François Hollande, lembrou no final do Conselho dos Ministros desta quarta-feira os princípios de “independência da justiça” e “presunção de inocência”, segundo o porta-voz do governo, Stéphane Le Foll. Já o primeiro-ministro, Manuel Valls, declarou que as acusações contra Nicolas Sarkozy são “graves”.

Alguns partidários do ex-presidente denunciaram “uma perseguição totalmente desproporcional” e questionaram a imparcialidade de uma das juízas encarregadas do processo. Claire Thépaut “alimenta sentimentos de ódio” em relação a Nicolas Sarkozy”, segundo o prefeito de Nice (sudeste da França), Christian Estrosi, do partido UMP. A juíza integrou o sindicato da magistratura, de orientação progressista.

Em resposta, o secretário-geral do sindicato, Eric Bocciarelli, afirmou que a questão não é pertencer ou não a um sindicato, mas sim ser imparcial no exercício das suas funções. “Cada vez que uma pessoa pública é acusada, temos uma reação desproporcional contra os juízes e a Justiça”, lamentou ele, que julga o fenômeno “inquietante”.

Os principais líderes da direita francesa preferiram ser prudentes. O ex-primeiro-ministro François Fillon julga “urgente que tudo seja esclarecido”. Alain Juppé, também apontado como possível candidato à presidência em 2007, disse desejar que a “inocência” de Nicolas Sarkozy seja demonstrada pela Justiça.

Jean-François Copé, o presidente do partido UMP que teve de deixar o cargo devido a um escândalo de superfaturamento de comícios e notas frias, manifestou seu “apoio” a Sarkozy e criticou aqueles que fazem “tudo” para impedir o retorno do ex-chefe de Estado. A eleição para escolher o novo presidente do partido, principal força de direita na França, está marcada para 29 de novembro.

Gilberto Collard, deputado da Frente Nacional, partido de extrema-direita que foi o mais votado nas eleições europeias de maio, declarou que o ex-presidente “ficou definitivamente desacreditado com esses escândalos”. Em um ano, a popularidade de Nicolas Sarkozy caiu 16 pontos junto aos franceses de direita, passando de 66% para 50%.

Escutas telefônicas

Essa é a segunda vez que o ex-presidente é indiciado. A primeira foi no chamado caso Bettencourt, ligado a um suposto financiamento ilegal de sua campanha eleitoral de 2007, mas a Justiça arquivou a denúncia por falta de provas.

A investigação que levou a esse segundo indiciamento foi aberta em fevereiro, baseada em escutas telefônicas visando o ex-presidente e seus próximos.

“Eu não compreendo, não falo de perseguição mas pode perfeitamente se tratar de um erro de apreciação dos juízes, isso já aconteceu no passado”, disse o ex-magistrado e atual deputado do partido UMP George Fenech, citando o caso Bettencourt.

As suspeitas apareceram durante uma investigação sobre acusações de financiamento líbio da campanha eleitoral de 2007 de Sarkozy, levando a Justiça a colocar dois telefones usados pelo ex-chefe de Estado sob escuta entre 3 e 19 de setembro do ano passado.

Essas escutas teriam revelado que Sarkozy e seu advogado estavam bem informados sobre o processo em andamento em segunda instância sobre as suspeitas de abuso de fraqueza em detrimento da bilionária Liliane Bettencourt, que teria contribuído para o financiamento da campanha de 2007.

Os juízes agora tentam descobrir se Nicolas Sarkozy tentou facilitar uma promoção de Gibert Azibert para um cargo em Mônaco em troca de informações sobre o processo. Magistrado de alto escalão, Azibert também foi indiciado, assim como um outro magistrado e o advogado de Sarkozy, Thierry Herzog.

Ex-diretor de campanha de Sarkozy confessa fraude e derruba direção do partido UMP

Ex-diretor-adjunto da campanha de Sarkozy em 2012, Jérôme Lavrilleux, chora durante entrevista ao canal BFM-TV, ao relatar fraudes na contalibidade do partido.

Ex-diretor-adjunto da campanha de Sarkozy em 2012, Jérôme Lavrilleux, chora durante entrevista ao canal BFM-TV, ao relatar fraudes na contalibidade do partido|Reprodução Youtube

O líder do partido conservador UMP, Jean-François Copé, anunciou sua demissão do cargo nesta terça-feira (27), pressionado depois que seu chefe de gabinete, Jérôme Lavrilleux, confessou chorando, ontem à noite na televisão, que o partido emitiu cerca de 11 milhões de euros (33,3 milhões de reais) de notas frias durante a campanha de Nicolas Sarkozy em 2012. Na época da fraude, Lavrilleux ocupava o cargo de diretor-adjunto da campanha presidencial.

Adriana Moysés e Elcio Ramalho

O novo escândalo de suspeita de financiamento ilegal da campanha do ex-presidente está sendo chamado de Bygmalion, nome da empresa de comunicação que emitiu as notas frias. O esquema, segundo denúncias, serviu para desviar gastos exorbitantes da campanha de Sarkozy, que eram limitados por lei a 22,5 milhões de euros. A fraude também teria beneficiado financeiramente os donos da Bygmalion, amigos de Copé.

Em entrevista ao canal de BFM-TV, na noite desta segunda-feira, o ex-diretor-adjunto da campanha de Sarkozy admitiu que o partido utilizou notas frias da Bygmalion para justificar despesas de comícios e deslocamentos do ex-presidente que ultrapassavam o teto autorizado pela lei. Chorando diante das câmeras de TV, Lavrilleux assumiu a responsabilidade pela fraude e explicou que foi vítima de “uma engrenagem que foi longe demais”. Lavrilleux tentou inocentar Sarkozy e Copé, dizendo que eles não tinham conhecimento do esquema.

A empresa Bygmalion chegou a emitir notas frias em nome de deputados que sequer tinham conhecimento da fraude. Furiosos, eles exigiram a demissão de Copé. Na manhã de hoje, em uma reunião extraordinária do diretório do partido, Copé jogou a toalha. Ele anunciou sua demissão e de toda a cúpula do partido. A medida será efetiva no dia 15 de junho.

A confissão pública de Lavrilleux levou a polícia a realizar uma devassa na sede do partido. Uma dezena de policiais passaram a madrugada recolhendo documentos na sede da UMP e nas casas de personalidades citadas no escândalo.

Amigos relatam descontentamento de Sarkozy com as acusações

O tesoureiro da campanha de Sarkozy, Philippe Briand, nega qualquer problema nas contas apresentadas pelo ex-presidente. No entanto, em julho do ano passado, o Conselho Constitucional já havia apontado irregularidades no valor de 400 mil euros nas contas do partido. Por conta disso, a UMP deixou de receber 10 milhões de euros do financiamento oficial previsto pelo Estado. Para cobrir o rombo no caixa, a legenda realizou uma campanha de arrecadação excepcional de fundos junto dos militantes.

Sarkozy ainda não comentou o caso Bygmalion. Mas amigos do ex-presidente dizem que ele está profundamente “descontente” que seu nome seja associado à fraude das notas frias.

O advogado da empresa Bygmalion declarou que as notas falsas foram apresentadas a pedido da UMP.

Diante do escândalo e da demissão da cúpula do partido, ficou definido que três ex-premiês franceses – François Fillon, Jean-Pierre Raffarin e Alian Juppé – vão comandar a legenda até a realização de um Congresso extraordinário do partido no segundo semestre.

Quanto a Jérôme Lavrilleux, ele foi eleito deputado pela UMP no Parlamento Europeu, no último domingo, e espera se beneficiar da imunidade parlamentar.

 
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Ex-diretor de campanha de Sarkozy confessa fraude e derruba direção do partido UMP

Ex-diretor-adjunto da campanha de Sarkozy em 2012, Jérôme Lavrilleux, chora durante entrevista ao canal BFM-TV, ao relatar fraudes na contalibidade do partido.

Ex-diretor-adjunto da campanha de Sarkozy em 2012, Jérôme Lavrilleux, chora durante entrevista ao canal BFM-TV, ao relatar fraudes na contalibidade do partido.

Reprodução Youtube

O líder do partido conservador UMP, Jean-François Copé, anunciou sua demissão do cargo nesta terça-feira (27), pressionado depois que seu chefe de gabinete, Jérôme Lavrilleux, confessou chorando, ontem à noite na televisão, que o partido emitiu cerca de 11 milhões de euros (33,3 milhões de reais) de notas frias durante a campanha de Nicolas Sarkozy em 2012. Na época da fraude, Lavrilleux ocupava o cargo de diretor-adjunto da campanha presidencial.

 

Adriana Moysés e Elcio Ramalho

O novo escândalo de suspeita de financiamento ilegal da campanha do ex-presidente está sendo chamado de Bygmalion, nome da empresa de comunicação que emitiu as notas frias. O esquema, segundo denúncias, serviu para desviar gastos exorbitantes da campanha de Sarkozy, que eram limitados por lei a 22,5 milhões de euros. A fraude também teria beneficiado financeiramente os donos da Bygmalion, amigos de Copé.

Em entrevista ao canal de BFM-TV, na noite desta segunda-feira, o ex-diretor-adjunto da campanha de Sarkozy admitiu que o partido utilizou notas frias da Bygmalion para justificar despesas de comícios e deslocamentos do ex-presidente que ultrapassavam o teto autorizado pela lei. Chorando diante das câmeras de TV, Lavrilleux assumiu a responsabilidade pela fraude e explicou que foi vítima de “uma engrenagem que foi longe demais”. Lavrilleux tentou inocentar Sarkozy e Copé, dizendo que eles não tinham conhecimento do esquema.

A empresa Bygmalion chegou a emitir notas frias em nome de deputados que sequer tinham conhecimento da fraude. Furiosos, eles exigiram a demissão de Copé. Na manhã de hoje, em uma reunião extraordinária do diretório do partido, Copé jogou a toalha. Ele anunciou sua demissão e de toda a cúpula do partido. A medida será efetiva no dia 15 de junho.

A confissão pública de Lavrilleux levou a polícia a realizar uma devassa na sede do partido. Uma dezena de policiais passaram a madrugada recolhendo documentos na sede da UMP e nas casas de personalidades citadas no escândalo.

Amigos relatam descontentamento de Sarkozy com as acusações

O tesoureiro da campanha de Sarkozy, Philippe Briand, nega qualquer problema nas contas apresentadas pelo ex-presidente. No entanto, em julho do ano passado, o Conselho Constitucional já havia apontado irregularidades no valor de 400 mil euros nas contas do partido. Por conta disso, a UMP deixou de receber 10 milhões de euros do financiamento oficial previsto pelo Estado. Para cobrir o rombo no caixa, a legenda realizou uma campanha de arrecadação excepcional de fundos junto dos militantes.

Sarkozy ainda não comentou o caso Bygmalion. Mas amigos do ex-presidente dizem que ele está profundamente “descontente” que seu nome seja associado à fraude das notas frias.

O advogado da empresa Bygmalion declarou que as notas falsas foram apresentadas a pedido da UMP.

Diante do escândalo e da demissão da cúpula do partido, ficou definido que três ex-premiês franceses – François Fillon, Jean-Pierre Raffarin e Alian Juppé – vão comandar a legenda até a realização de um Congresso extraordinário do partido no segundo semestre.

Quanto a Jérôme Lavrilleux, ele foi eleito deputado pela UMP no Parlamento Europeu, no último domingo, e espera se beneficiar da imunidade parlamentar.