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Protestos mudam de cara e são liderados por militância política

As ações que pararam a área central de Brasília na terça-feira mostraram que as mobilizações mudaram desde o ano passado. Segundo especialistas, as bandeiras agora começam a aparecer. Mas opiniões se dividem quanto aos confrontos

Correio Braziliense|Adriana Bernardes e Almiro Marcos

29/05/2014 

Coletiva com as lideranças dos movimentos que fizeram o ato na terça-feira: maior organização (Ed Alves/CB/D.A Press)  
Coletiva com as lideranças dos movimentos que fizeram o ato na terça-feira: maior organização

A proximidade com a Copa do Mundo e as eleições mudaram o tom dos protestos iniciados há um ano em diferentes cidades brasileiras. Se antes os movimentos se declaravam independentes, sem lideranças e surgido das massas de brasileiros insatisfeitos com as condições socioeconômicas do país, agora há uma organização clara. Os grupos já não recusam as bandeiras dos partidos políticos, antes repudiadas nos atos. Especialistas ouvidos pelo Correio afirmam que a mudança pode ser reflexo da disputa eleitoral em curso. A questão agora é saber como os políticos vão se posicionar. “É o carpe diem (do latim, aproveite o dia). Todos estão aproveitando o momento de exposição do país com o evento da Copa para colocar suas reivindicações”, afirma David Verge Fleischer, doutor em ciência política da Universidade de Brasília (UnB).

No protesto de terça-feira, o Comitê Popular da Copa se uniu ao Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e ao dos Atingidos por Barragens e a representantes indígenas que lutam pela demarcação de terras e por melhorias das condições de saúde dos povos nas aldeias Brasil afora. As faixas com as reivindicações se misturaram a bandeiras de partidos como o Psol e PSTU, rasgadas no ano passado por aqueles que tomaram as ruas. O protesto, mais uma vez, acabou em pancadaria.

A preocupação com as mobilizações chegou também ao campo acadêmico. O Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB) se articula para acompanhar de perto as manifestações populares. No ano passado, não houve como fazer um acompanhamento sistemático dos eventos, já que eles surgiram sem aviso. Este ano, a situação é considerada diferente por pesquisadores da academia. A ideia é colocar professores e alunos para participar. “Este é um momento raro e muito rico. Nosso pessoal precisa estar presente”, explica o sociólogo Sadi Dal Rosso, doutor em sociologia e professor titular da UnB.